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Transição na Petrobras será pacificada e resolvida em abril, com a assembleia de acionistas

“Todas as indicações para o conselho da Petrobras foram construídas de forma consensual”, diz ministro da Secretaria de Comunicação Social

Arquivo/Agência Brasil
Arquivo/Agência Brasil
Estatal distribuiu mais de R$ 215 bilhões aos acionistas em 2022 e quase não investiu no país

São Paulo – A situação envolvendo a Petrobras e suas novas políticas – inclusive de preço – só serão pacificadas a partir de 27 de abril. Nessa data ocorrerá a assembleia geral de acionistas, que deve confirmar Jean Paul Prates no comando da estatal e também definir os nomes para o conselho de administração da companhia.

Nos últimos dias, o debate em torno dos nomes indicados pelo ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, ao Conselho de Administração da Petrobras, ficou menos pesado. A temperatura começou a cair após a fala do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, na quinta-feira (2), minimizando um possível mal-estar do Planalto. “O ministro Alexandre Silveira tem total respaldo do presidente da República”, disse ele.

“Todas as indicações para o conselho da Petrobras foram construídas de forma consensual e conjuntas pelo Alexandre Silveira, Jean Paul Prates (presidente da Petrobras) e acompanhados por Rui Costa (Casa Civil). Nenhuma indicação foi feita sem ter passado pelo entendimento dessas três pessoas. Qualquer especulação diferente dessa é absolutamente inverídica”, acrescentou o chefe da Secom.

O próprio presidente Lula disse, em entrevista à BandNews FM, que o governo só vai “ter o controle da Petrobras em abril e aí vamos discutir com mais seriedade o papel da empresa”.

Os indicados constam de publicação do Ministério de Minas e Energia e são os seguintes: Pietro Adamo Sampaio Mendes (para presidência do conselho). Como membros do colegiado, o presidente da Petrobras, o próprio Prates, além de Carlos Eduardo Turchetto Santos, Vitor Eduardo de Almeida Saback, Eugênio Tiago Chagas Cordeiro e Teixeira e Wagner Granja Victer. Este último teria sido substituído por Bruno Moretti, atual secretário especial de Análise Governamental da Presidência da República.

Premissa: haverá mudanças significativas

Mas a atual política da estatal, que se mantém desde o governo de Michel Temer, não pode continuar. Essa premissa, com mais ou menos veemência, é defendida pelo “núcleo duro” do governo e o próprio presidente. Ontem, no relançamento do Bolsa Família, Lula defendeu que o Estado volte a ser indutor do crescimento e criticou a política de distribuição de dividendos da Petrobras aos acionistas.

Disse ainda que “não podemos aceitar” que a estatal tenha distribuído mais de R$ 215 bilhões aos acionistas, quando deveria ter investido no país e, no período, “investiu quase nada”. “Agora é uma exportadora de óleo cru”, frisou.

Em entrevista coletiva no final da tarde de quinta-feira (2), Prates tocou em pontos sensíveis, mas deu a entender que sua gestão não será indiferente às expectativas sobre o papel social da Petrobras, hoje voltada principalmente aos interesses dos acionistas.

“Quando falamos de futuro, pensamos em fazer uma transição energética justa. Vamos fazer uma transição que não deixa ninguém para trás. A transição não pode deixar a base da pirâmide mais pobre, enquanto uma minoria fica mais rica”, disse o presidente da estatal.

Paridade de preços

Ele também tocou no ponto nevrálgico da Paridade de Preços de Importação (PPI), sistema em vigor pelo qual os preços dos combustíveis são definidos pelo dólar e preços internacionais. “Não existe bala de prata, não existe um dogma, um preço apenas de referência no Brasil todo. O próprio PPI é uma abstração”, disse Prates. “Criaram esse nome e agora tudo é PPI”, acrescentou. Sua menção a “abstração” causou furor na mídia.

O próprio coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, também baixou o tom ao comentar o quadro na Petrobras, em entrevista à Rádio Brasil Atual nessa sexta-feira (3). Segundo ele, a fala do presidente da estatal foi “cirúrgica”. “Ele toca no tema de uma política justa.”

Para Bacelar, a falta de competitividade – por conta da PPI – tem relação com a obrigação da Petrobras praticar uma política de preços que “é benéfica para o concorrente dela”. “Isso não é exigido no Brasil ou qualquer parte do mundo para empresas do setor privado, de petróleo ou outro setor.”

O dirigente da FUP mencionou o fato de o país viver o regime de governo de coalizão, e Lula ter sido eleito por uma frente ampla. “Compreendemos isso.” Citou também a fala de Paulo Pimenta na quinta (2), que afirmou ter havido acordo para a indicação dos membros do Conselho de Administração.

“Cumprimos o papel de alertar que poderemos ter problemas, mas se (os indicados) vão se adaptar, se submeter à orientação do governo e vão cumprir (o programa de governo), iremos parabenizar. Se não, iremos fazer as críticas necessárias para que sejam retirados do conselho”, disse Bacelar.

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