Fim da distorção?

Preço de importação vai valer apenas para combustível importado, diz Prates

Presidente da Petrobras diz que quem define política de preços é o governo federal. Prates chama PPI de “dogma” e também sinaliza mudanças em distribuição de dividendos

Tomaz Silva/Agência Brasil
Tomaz Silva/Agência Brasil
Fim do PPI, que Prates chamou de "dogma", deve reduzir preços dos combustíveis no Brasil

São Paulo – O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que o Preço de Paridade de Importação (PPI) deixa de ser “o único parâmetro”. Em entrevista coletiva, nesta quinta-feira (2), ele disse que o PPI virou um “dogma”, uma “abstração”. Ressaltou que quem define a política de preços é o governo, e que na maioria das vezes vezes o PPI não serve para garantir competitividade do mercado de combustíveis.

“Sempre tenho dito que política de preços é do governo. A Petrobras vai seguir preços competitivos conforme ela achar que deve ser para manter a sua fatia de mercado. Na maior parte do tempo, o PPI não é”, afirmou. “O PPI foi essencial para os importadores, não quer dizer que ele seja essencial para a Petrobras”.

Nesse sentido, ele frisou que o PPI vai valer a partir do “primeiro metro cúbico” que o país precise importar, após a Petrobras abastecer o mercado nacional. Ele aponta no sentido de “abrasileirar” os preços dos combustíveis, como prometeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha.

Hoje cerca de 25% do diesel e 20% da gasolina consumida no Brasil vem do exterior. No entanto, para atender o restante do mercado, a Petrobras estabelece os preços dos combustíveis como se eles fossem importados também. Não se trata apenas de acompanhar preços do petróleo no mercado internacional, cotados em dólar. A estatal contabiliza ainda “custos” com frete e tarifas portuárias que nem se quer existem.

Distorção e lucro

O intuito do PPI é equiparar o preço local com os combustíveis importados principalmente do Golfo do México, que apesar do nome, abrange a principal área petrolífera dos Estados Unidos. É de lá que vem grande parte dos derivados importados consumidos no Brasil, desde que o PPI foi adotado pela Petrobras, em 2016, após o golpe do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. Assim, a Petrobras deixa de estabelecer o preço mais competitivo possível. Em vez disso, fixa o preço dos combustíveis num patamar mais elevado que possibilite a participação dos importadores.

Em 2021, as importações de diesel, por exemplo, saltaram para 14,4 milhões de metros cúbicos de diesel, maior marca da série histórica, de acordo com a ANP. Para o ano passado, os dados ainda não foram computados. Em 2016, no entanto, antes do PPI, o Brasil importou 7,4 milhões de metros cúbicos do combustível. Na gasolina, o crescimento das importações também é parecido. Até o final do ano passado, eram 634 traders vendendo combustíveis importado atuando no Brasil.

Dividendos

Com o PPI, a Petrobras também viu seus lucros explodir. Ontem a estatal anunciou lucro líquido recorde de R$ 188,3 bilhões em 2022. E deve pagar mais de 200 bilhões em dividendos aos acionistas relativo ao resultado do ano passado. Os investimentos da companhia, no entanto, vem caindo.

Durante a coletiva, Prates destacou que a política de distribuição de dividendos deve mudar. Mas descartou estabelecer regras rígidas. “Dividendo tem que ter uma regra mais solta. Quanto mais flexível melhor.Tem trimestres que são diferentes dos outros. Uma regra dessa amarra para o bem e para o mal”.

Desse modo, ele sinalizou também para ampliação de investimentos, principalmente com vistas à transição energética. Ainda assim, destacou que o petróleo não vai deixar de existir “de uma hora para outra”, e que a estatal vai expandir investimentos também no pré-sal.

“Você deixa o dinheiro comigo e eu vou te mostrar projetos muito bons, muito legais para o futuro. Para agora, um portfólio bem composto de curto, médio e longo prazo, sustentável, sólido, e o investidor decide. Nós decidimos, propomos e o investidor decide se quer estar conosco ou se quer estar com o cash certo do dividendo de curto prazo”.


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