Tudo caro

‘Hoje temos uma estagflação no Brasil’, diz Guido Mantega

Ministro da Economia mais longevo da República criticou falta de investimentos, privatizações, dentre outras medidas tomadas, ou não, pela gestão Bolsonaro e Paulo Guedes

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Guido Mantega é o ministro da Economia mais longevo da República

“Hoje temos uma estagflação no Brasil. Uma economia crescendo pouco e uma inflação alta.” Foi desta forma que Guido Mantega, ministro da Economia mais longevo da República, resumiu o atual estado do país. Ele deu entrevista ao programa Revista Brasil TVT, da Rede TVT, veiculada na noite deste sábado (20), e apontou tanto as causas da inflação quanto as da falta de crescimento econômico do país. Professor na FGV, Mantega afirmou ainda que auxílios dados pela gestão Jair Bolsonaro e Paulo Guedes vão gerar algum crescimento sem sustentação e que os preços dos alimentos vão continuar altos (assista abaixo à integra da entrevista).

Mantega disse que a inflação atual é resultado da crise da Covid, guerra na Ucrânia e elevação de preços, como energia, combustíveis e alimentos. “A Petrobras praticou uma política de preços equivocada, subiu mais que o necessário.” Sobre alimentos, explicou que a alta vem de uma demanda internacional, com preços em dólar, aliada à inação de Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes. “O governo não providenciou uma oferta maior de alimentos, por exemplo, estimulando pequenos produtores, como a agricultura familiar. Também não tem mais estoques reguladores, como tinha no passado. Tudo isso faz com que haja um encarecimento muito grande do custo de vida. O principal item de consumo das pessoas é o alimento e esse preço não vai cair.” Ele acrescentou que a inflação média do país gira em torno de 11% em 12 meses, “mas para a população de baixa renda é de 16%, 18%, 20%.”

‘Pífio’

Sobre a estagnação da economia, Guido Mantega chamou o crescimento dos últimos quatro anos de “pífio”. Ele calcula que se for de 2% em 2022, o acumulado será de 3,9%, ou menos de 1% ao ano. “No governo Lula, o país crescia 4% em média, teve ano que crescemos 7,5%”, disse. O economista explicou o que levou o país à estagnação. “Em vez de estimular a indústria, o setor agrícola, exportações, eles ficaram privatizando as empresas estatais. Diminuindo investimentos. O investimento é o dinamizador da economia, gera emprego, aumenta a renda, tem um efeito multiplicador”, afirmou. “Eles congelaram o salário mínimo, até diminuíram em 1,7%, diminuíram salário com as reformas que fizeram e a renda média mensal está dois mil seiscentos e pouco, menor que em 2014. Nosso mercado consumidor encolheu.”

Faltam sustentação e estado

O economista espera crescimento um pouco maior esse ano por conta de um impulso gerado pelos auxílios implementados pelo governo. “É um ano eleitoral, estão fazendo uma série de medidas pontuais, passageiras, que dão um crescimento um pouco maior, mas não é sustentável, não tem investimento.” Mantega usou a alegoria de um paciente com hemorragia para explicar o efeito. “Você vai lá e faz uma transfusão de sangue. Ele dá uma melhorada, passageira, mas a hora que acabar a transfusão ele volta para situação em que está se debilitando.”

Guido Mantega também citou exemplos externos para mostrar o que deveria ter sido feito. “Os países avançados e outros emergentes fizeram políticas de estímulo. Os Estados Unidos cresceram 5,7% ano passado, porque tiveram política de investimento feita pelo estado. Aqui, eles tiraram o estado. Num momento de crise o estado tem de intervir mais”, disse. “Ele (Bolsonaro) praticamente dobrou a dívida pública, a economia não cresce e a população empobreceu. Esse é o resultado do governo.”


Leia também


Últimas notícias