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Acordo Mercosul-União Europeia coloca indústria nacional em risco

Sem política industrial que fortaleça a produção nacional e proteja os empregos no setor, mercado brasileiro deve ser inundado por produtos europeus

Reprodução/RBA
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Exportando industrializados, acordo de livre-comércio deve beneficiar europeus

São Paulo – O chamado acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, assinado na semana passada e comemorado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, representa riscos para a indústria brasileira. Sem barreiras comerciais, a entrada em larga escala de produtos europeus no mercado brasileiro pode acarretar a falência de empresas, com a destruição de postos de trabalho mais qualificados. Sem se saber ainda os detalhes da negociação, as primeiras impressões são de que os europeus levarão enormes vantagens, caso a proposta seja aprovada pelo Congresso sem modificações.

“Significará um desastre para a economia brasileira, um retrocesso gigantesco para as perspectivas de desenvolvimento do país”, avalia o professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Igor Fuser, em entrevista à repórter Martha Raquel, para o Seu Jornal, da TVT. “Todas as vezes que o Brasil fez esses acordos de abertura comercial desse tipo, significou o fechamento de centenas ou milhares de indústrias, e a perda de milhões de empregos”, acrescenta.

O Brasil e os demais países do Mercosul exportam para a Europa produtos básicos, em sua maioria, como café, soja, carne e minerais. Já os europeus nos vendem majoritariamente produtos industrializados, como medicamentos, veículos e equipamentos. Sem impostos, e com mais tecnologia que os equivalentes nacionais, o risco é que as empresas brasileiras não consigam concorrer com esses produtos europeus.

“Veículos, autopeças, produtos alimentícios sofisticados, como vinhos, queijos e chocolates, entrarão no Brasil a preços baixos. É claro que, para o consumidor, para pessoas da alta classe média e da elite que podem comprar um vinho europeu, um chocolate ou queijo importado, vai ser um conforto muito grande. Mas para a maioria da população essa abertura indiscriminada da economia brasileira a produtos estrangeiros vai significar a falência de empresas brasileiras”, explica o professor.

Metalúrgicos

Representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) também manifestaram preocupação com a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Negociado há 20 anos, até mesmo governo com orientação neoliberal, como no caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) resistiram em aceitar tais termos de negociação.

“A Europa teve uma política industrial para expandir sua indústria, com incentivos para o desenvolvimento de tecnologias e inovação, teve proteções necessárias em determinados momentos da história para a crescer, diferentemente da indústria brasileira. Hoje a gente não tem uma política industrial que nos protege. Não é só proteger, mas desenvolver e incentivar a produção local”, analisa o secretário-geral do sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva.

“Com mais esse golpe, a retirada do imposto de importação sem nenhuma contrapartida, sem negociação que garantisse a produção e desenvolvimento no Brasil, certamente a gente caminha para perder as áreas de desenvolvimento, tecnologia e engenharia”, acrescenta o também diretor da entidade Welington Damasceno.

Assista à reportagem da TVT