Todos os tempos

Passado e presente se unem nas lembranças de Monarco

Sambistas se despediram do mestre portelense, que morreu no sábado, aos 88 anos

Ana Branco/Divulgação
Ana Branco/Divulgação
Compositor chegou à ala de compositores da Portela com 17 anos. O último CD foi lançado em 2018

São Paulo – O historiador carioca Luiz Antonio Simas lembrou de uma história curiosa envolvendo Monarco, que em 1981 concorreu na escolha do enredo da escola Jacarezinho, que iria homenagear Paulo da Portela. Tempos depois, fez a primeira parte de uma samba, mostrou ao amigo Ratinho (o compositor Alcino Correia Ferreira) e comentou: “Eu plagiei alguém sem querer, porque tenho certeza de que essa melodia já existe”. Ao que Ratinho respondeu: “Plagiou você mesmo”. Era a melodia do samba que Monarco havia feito para o Jacarezinho.

A história, claro, terminou em samba. Ratinho compôs a segunda parte – e surgiu Coração em desalinho, um dos sambas mais conhecidos do mestre Monarco, que morreu no sábado (11), aos 88 anos, com complicações após uma cirurgia no intestino. Presidente de honra da Portela, Monarco foi enterrado ontem à tarde, no Cemitério de Inhaúma, depois de ser velado na quadra da escola de samba, em Oswaldo Cruz, zona norte do Rio.

Voz de um tempo

“O Monarco é a história. Era a voz de um tempo também que não temos mais”, disse durante o velório o compositor Paulinho da Viola. “Ele sempre esteve presente aqui, quando muitos não estão mais e outros não comparecem.” Paulinho lembrou de quando chegou à escola, no final de 1964. “O samba mais cantado era Portela – Passado de glória, escrito por ele. Das várias composições, essa é uma das que mais me lembro.”

Paulinho, Diogo Nogueira e Marisa Monte (que em 1999 lançou o álbum Tudo Azul, com a Velha Guarda da Portela), entre outros, foram se despedir de Monarco. Foi a segunda baixa neste ano entre os grandes sambistas cariocas – em maio, morreu o mangueirense Nelson Sargento. Integrantes da verde-rosa, por sinal, foram ontem homenagear o compositor da azul e branco.

Jovens compositores

“Nosso papel hoje para esse legado, essa história se manter viva, acesa, é continuar cantando a obra desse grande compositor, desse grande homem, de um coração imenso, que sempre agregou, sempre valorizou jovens compositores”, disse Diogo, filho de outra instituição do samba, João Nogueira.

Hildemar Diniz, nome de batismo de Monarco, nasceu em agosto de 1933, no bairro de Cavalcante, também na zona norte. Só na adolescência foi morar em Oswaldo Cruz, bairro onde fica a Portela. Chegou à ala de compositores com 17 anos. O primeiro LP só saiu em 1976. O último, Monarco de todos os tempos, é de 2018.