Cinema nacional

Hector Babenco recria sua batalha contra o câncer em longa-metragem

'Meu Amigo Hindu' é uma ficção baseada em fatos reais em que Babenco exorcisa a doença contra a qual lutou durante oito anos. Elenco traz Willem Dafoe, Maria Fernanda Cândido, Selton Mello e Bárbara Paz

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Da esq. para a dir.: o ator Willem Dafoe, Hector Babenco e Maria Fernanda Cândido, durante as filmagens

“O que você vai assistir é uma história que aconteceu comigo e a conto da melhor forma que eu sei”. É assim que o diretor Hector Babenco começa seu mais novo filme, Meu Amigo Hindu, que estreia nesta quinta-feira (3) nos cinemas. O longa-metragem recria a batalha do próprio diretor contra um câncer linfático descoberto em 1990, contra o qual ele lutou por oito anos.

Por mais que seja uma obra de ficção, a história pessoal do diretor se mistura com tramas criadas pela imaginação dele. “Não é uma narrativa linear, nem um filme autobiográfico, mas é o que eu quis contar do que vivi. Os fatos existiram e eu os conto de outra maneira. Esta história eu conto da única forma que sei, que é fazendo um filme, em que não necessariamente é tudo real”, afirma o diretor argentino radicado no Brasil.

O ator americano Willem Dafoe interpreta Diego, alter ego de Babenco, um cineasta que, ao descobrir que tem um câncer que pode ser fatal, se casa com a mulher com quem vivia há anos, despede-se dos amigos e parte para se tratar em um hospital nos Estados Unidos. Lá, ao lado de Lívia (Maria Fernanda Cândido), ele passa meses em um intenso e doloroso tratamento. Um dos médicos, com sérias dúvidas sobre a possibilidade de recuperação de Diego, afirma: “Aqui, a gente acredita na Ciência, mas meus anos de experiência como médico também me ensinaram que aqueles que ainda têm um sonho a realizar têm mais chances de sobrevivência”.

Estava aí a chave para Diego fazer um pacto com a morte, o Homem Comum, interpretado por Selton Mello. O protagonista pede à morte que ele não seja escolhido agora para que possa fazer mais um filme. Pedido atendido: foi o amor pelo cinema que salvou a vida de Babenco e de seu alter ego na trama. No hospital, o personagem principal conhece um menino hindu, do qual se torna amigo. Só que de uma hora para outra o garoto some e deixa uma marca profunda na vida do cineasta.

DivulgaçãoAmizade
Filme é um diálogo imaginário com um menino hindu que Babenco encontrou no hospital onde fazia tratamento

De volta à São Paulo, Diego não consegue deixar para trás a dor física e emocional causada pela doença: o casamento acaba, a vida parece não fazer mais sentido e, um dia, solitário no trânsito da capital, uma forte lembrança vem à tona. Ele estava dirigindo seu carro quando parou em um semáforo e apareceu um menino para lavar o vidro, cena que fez com se lembrasse do menino hindu com quem esteve em tratamento nos Estados Unidos. “Então decidi começar um diálogo imaginário com ele sobre a minha dor naquele momento, a minha tristeza, a minha solidão, de como me sentia depois de ter sido curado, e tudo o que me estava acontecendo. Ao ponto de me questionar: será que eu estou morrendo e ninguém me diz nada? E você, meu amigo hindu, está vivo?”, declara o diretor.

No longa-metragem, além de exorcisar todo o sofrimento trazido pela doença, Hector Babenco faz uma bela homenagem ao cinema: como no filme O Sétimo Selo, de Igmar Bergman, Diego joga xadrez com a morte, e Sofia (Bárbara Paz) dança como Genny Kelly, em Cantando na Chuva. Na verdade, Meu Amigo Hindu é um filme sobre o renascimento de Babenco por meio da sétima arte.

O longa também traz no elenco os atores Guilherme Weber, Tuna Duek, Dan Stulbach e Reynaldo Gianecchini, este em papel inspirado no médico Drauzio Varella. Apesar de boa parte da história se passar em São Paulo, todos os atores falam em inglês, o que, de início, causa uma certa surpresa. Porém, o estranhamento logo passa, dado o caráter universal que o diretor consegue dar à trama.

cartaz_hinduMeu Amigo Hindu
Direção e roteiro: Hector Babenco
Produção: HB Filmes
Produtor: Hector Babenco
Produtores executivos: Jeremy Thomas e Marcelo Torres
Coprodutores: Lúcia Segall e Sun Moritz
Direção de fotografia: Mauro Pinheiro Jr. ABC
Música original: Zbigniew Priesner
Montagem: Gustavo Giani
Designers de produção: Caroline Schamall (Carrô), Clovis Bueno, Isabel Xavier, Luís Oliveira e Clissia Morais
Figurinista: Rita Murtinho
Casting: Julia Medeiros
Elenco: Willem Dafoe, Maria Fernanda Cândido, Barbara Paz, Selton Mello, Guilherme Weber, Reynaldo Gianecchini, Denise Weinberg, Maitê Proença, Dan Stulbach, Vera Valdez, Stella Schnabel, Phil Miler, Dani Galli, Dalton Vigh, Clara Choveux e Rio Adlakha
País: Brasil
Duração: 115 minutos
Ano: 2015