‘Entre a Luz e a Sombra’ trata sobre dilemas das prisões

(Foto: Divulgação) São Paulo – Primeiro longa da jornalista Luciana Burlamaqui, o documentário “Entre a Luz e a Sombra” revisita a questão carcerária no Brasil por um novo ângulo. O […]

(Foto: Divulgação)

São Paulo – Primeiro longa da jornalista Luciana Burlamaqui, o documentário “Entre a Luz e a Sombra” revisita a questão carcerária no Brasil por um novo ângulo. O filme focaliza o trabalho da atriz Sophia Bisilliat como voluntária social em presídios como o Carandiru, em São Paulo, e a relação que se formou entre ela e dois detentos que se tornaram uma famosa dupla de rappers — a 509-E, formada por Dexter e Afro-X.

A estreia acontece na sexta-feira (26) em São Paulo e Belo Horizonte. O lançamento no Rio deve acontecer no próximo dia 4 de dezembro.

Acompanhando a vida destes três personagens desde 2000, a diretora coloca em primeiro plano a tentativa de ressocialização dos dois presos como músicos, que terá resultados diferentes para os dois.

Nascidos na periferia de São Bernardo do Campo, Marcos Fernandes de Omena (o futuro Dexter) e Christian de Souza Augusto (Afro-X) foram amigos de infância, mas se separaram no começo da vida adulta. Reencontraram-se na cela 509-E, que terminaria batizando sua dupla musical, no Carandiru, anos depois, um condenado por um homicídio e vários assaltos a mão armada e o outro, pelo mesmo tipo de assalto.

Luciana Burlamaqui, que várias vezes se encarrega também da câmera do filme, capta o ambiente sombrio do Carandiru, às vésperas de sua desativação, que ocorreu em 2002. Através da história dos dois presos, que começam a sair com licenças especiais para darem shows — autorizados pelo então juiz-corregedor dos presídios paulistas, Octávio de Barros Filho — a diretora cria oportunidades para a análise de vários tipos de dilemas sociais.

Sophia Bisilliat torna-se empresária da dupla de rappers e, mais adiante, namorada de Dexter. Ele convive com os dois filhos dela do primeiro casamento e conhece realidades distintas de sua vida anterior, como nos shows — onde suas letras, falando das tristezas da vida dos pobres e prisioneiros, viram sucesso entre jovens de vários bairros da periferia paulista.

Ironicamente, o sucesso da dupla, que inspira outros presos a seguirem seu exemplo, provoca reações dentro do ambiente judiciário e pressões sobre o juiz-corregedor. Algum tempo depois, os rappers são impedidos de sair com a mesma frequência, especialmente depois da ocorrência de uma rebelião, em 2001 — em que a então namorada de Afro-X, a cantora Simony, que estava grávida dele, foi feita refém, ao lado de outros familiares que vieram visitar os detentos.

Algum tempo depois, a liberdade condicional obtida por Afro-X terminará sendo a última gota para o fim da dupla. Afro-X dará prosseguimento à carreira musical, enquanto o destino de Dexter, também rompido com Sophia, toma outro rumo.

Com o fechamento e demolição do Carandiru, ele será transferido de prisão e prisão, terminando na unidade de segurança máxima de Tremembé (SP) — onde ele tem ainda muitos anos de pena a cumprir e poucas perspectivas de retomar a carreira musical, ou qualquer outra.

Evitando julgar os personagens, o documentário tem no depoimento do juiz Octávio de Barros Filho um de seus pontos altos. Transferido a pedidos para uma vara na zona sul de São Paulo, é dele uma lúcida análise sobre as razões para o surgimento do PCC – Primeiro Comando da Capital, a organização criminosa que surgiu nos presídios paulistas e comandou uma onda de ataques a ônibus, bancos e postos policiais em São Paulo, em maio de 2006.

É dos comentários do juiz que surge, aliás, o título do filme — que tem na longa duração (150 minutos) seu problema mais grave.

Fonte: Reuters

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