Em SP, usuários do parque da Água Branca criticam corte de dezenas de árvores e reformas na área

Palmeiras retiradas de bosque do parque da Água Branca (Foto: Suzana Vier/Rede Brasil Atual) São Paulo – Reformas no parque da Água Branca, na zona oeste da capital paulista, são […]

Palmeiras retiradas de bosque do parque da Água Branca (Foto: Suzana Vier/Rede Brasil Atual)

São Paulo – Reformas no parque da Água Branca, na zona oeste da capital paulista, são motivo de críticas de frequentadores, que temem a descaracterização do local. O corte de árvores, o desaparecimento de animais do parque e novas construções são as principais preocupações dos usuários. Na terça-feira (3), uma equipe da Polícia Militar Ambiental chegou a ser acionada pela Promotoria de Meio Ambiente, para checar denúncias de moradores sobre desmatamento.

Apesar de a administração ter apresentado autorização do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo (Condephaat) para corte de 30 árvores, o MP decidiu investigar as autorizações, já que o parque é tombado e não pode ser desfigurado.

“Esse lugar é maravilhoso, não pode perder sua característica mais forte que é o jeito rural”, afirma Malu Genevois, assistente social e frequentadora do local. Usuária do parque há 21 anos, Malu critica a derrubada de dezenas de árvores de um dos bosques, a falta de cuidados com os animais e as novas construções que ali foram feitas. “Qual a necessidade de um restaurante, se temos dois shoppings em volta?”, indaga.

O parque Doutor Fernando Costa fica entre vias de trânsito intenso, como a avenida Francisco Matarazzo e a rua Turiassu, e é considerado um oásis em meio a prédios e avenidas da capital paulista. O aspecto rural do parque, com galinhas de angola, pavões, coelhos e saguis soltos, em meio aos frequentadores, é o principal atrativo da área, afirmaram visitantes ouvidos pela Rede Brasil Atual.

Árvores podadas

Desde abril, o parque passa por reformas com o corte de dezenas de árvores, construção de um restaurante, criação de uma trilha, além de reformas de prédios. As obras fazem parte de um projeto de revitalização capitaneado pela primeira-dama do estado, Deuzeni Goldman, presidente do Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo, (Fussesp), cuja sede fica no local. Embora a administração do parque seja responsabilidade da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, é Deuzeni quem coordena as transformações.

Transparência

Apesar das obras estarem em andamento há alguns meses, os usuários queixam-se da falta de informação sobre o que será feito no parque.

Há duas décadas frequentando o parque da Água Branca, Malu Genevois ressalta que faltou discussão com a comunidade. “Esse lugar é maravilhoso. É incrível ver o rostinho das crianças ao ver um bicho livre”, cita. “A gente tem coqueiros, palmeiras, bambuzais, seringueira, tanque com carpas, animais… Essa área é preciosa demais”, diz, emocionada.

Segundo ela, os usuários não são contra qualquer processo de revitalização da área. O problema, segundo ela, é a falta de transparência. “A gente tem o direito de perguntar e o direito de saber. Eu perguntei e não obtive resposta”, critica. A usuária afirma que procurou a administração e a ouvidoria do parque, mas as informações sempre foram vagas e insatisfatórias. 

Depois da poda de palmeiras imperiais em um dos bosques, agora, ela teme pelo destino dos outros que ainda restam no parque. “Se o raciocínio da administração é, por exemplo, retirar arbustos para evitar que pessoas se escondam, imagina o que podem fazer?”, questiona.

A assistente social ressalta que qualquer reforma precisa respeitar o aspecto peculiar do parque. “Isso aqui vocês não podem acreditar, era cheio de palmeiras. Mas agora está tudo no chão, é só ver os toquinhos das árvores que foram retiradas”, descreve em alusão ao bosque que teve árvores derrubadas.

Péssima

Para a empresária Silvia Gertsenchtein, a ideia de construir uma praça de alimentação no parque é “péssima”. “Esse é o único parque com aspecto rural, edificações modernas não fazem sentido aqui”, afirma.

Voluntária

Já a advogada Regiane Beatriz está preocupada com o destino dos animais. Há dois anos e meio, ela passa duas horas diariamente cuidando dos bichos. Chega às 6 horas, e até as 8h30 ela os alimenta, limpa viveiros e ainda cuida dos que estão doentes.

Regiane começou a se preocupar com o trato dos animais depois de perceber que o gansos ficavam na porta da administração do parque, sempre no mesmo horário. “Eles faziam algazarra às 7 da manhã”. Ela julgou que eles sentiam fome e passou a alimentá-los com milho. “Às vezes o funcionário aparecia, às vezes não. Ele pegava um pouco de milho e jogava para eles, mas quem come são os pombos”, argumenta.

Ela afirma que o parque alimenta os bichos, mas de forma incorreta, porque os gansos devem comer pouco ao longo de todo o dia e no entanto o tratador os alimentava uma só vez pela manhã e eles passavam o restante do dia com fome.

A advogada passou a comprar milho e quirela. No início, era um quilo de cada alimento. Atualmente ela arca com 200 quilos de grãos por mês, além de verduras. “Não existe cuidado com os animais”, diz a advogada.

sagui

Como tratadora voluntária, Regiane conseguiu recuperar vários gansos, uma pata e galinhas de angola. “Uma das patas ficou internada mais de um mês com a pata quebrada, mas quando voltou sumiu. Só ficou a foto”, lembra. “Não só eu, tem várias outras pessoas que vêm aqui e cuidam. Mas essa parte de vir, limpar e cuidar, sou eu”, atesta a voluntária.

Ela conta que já mandou carta para a administração denunciando arrombamento de gaiolas, mas não obteve resposta. “Brincaram comigo que os galos que sumiram foram para uma granja, a Granja Viana (bairro de Cotia, cidade da Grande São Paulo conhecida pelo alto padrão das moradias)”, diz. “Acham que sou uma tonta”, lamenta. Com uma professora da USP, Regiane aprendeu a aplicar injeção nos animais e tenta mantê-los com saúde e distante de eventuais roubos.

Resposta do parque

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, responsável pelo parque, foi necessário retirar árvores antigas e comprometidas e eliminar palmeiras invasoras. “A remoção de exemplares de palmeira seafortia com diâmetro e altura do peito (DAP) menor que 12 cm foi indicada por técnico do Instituto Florestal, por ser espécie considerada invasora, nos termos da Resolução 154/09 Depave/SVMA”, informa a secretaria.

agua branca

A proposta da administração do parque é compensar a retirada e enriquecer o arvoredo com espécies nativas como carvalho nacional, canela-preta, óleo de capaíba, canela-amarela, louro-pardo, jatobá, pau-brasil, jequitibá, cabreúva, guatambu, ipê roxo e peroba-rosa.

Em carta ao blogue do jornalista Ricardo Kotscho, que recebeu denúncias de usuários com críticas às mudanças no parque, a primeira-dama paulista respondeu que pretende ainda melhorar a iluminação do parque e renovar o paisagismo.

“Queremos revitalizar o Pergolado, recuperar e ampliar o Aquário (que terá espaço para peixes marinhos, peixes de rio e também ornamentais), criar a Praça do Orquidário (no local da antiga mini fazenda, que está inutilizada já que o Ibama proibiu a presença dos antigos animais), criar a Praça do Café e uma Biblioteca”, detalha Deuzeni.