Parentes de vítimas da violência fazem manifestação no centro do Rio

Rio de Janeiro – Parentes de vítimas da violência no Rio de Janeiro fazem nesta sexta-feira (17)uma manifestação em frente à Igreja da Candelária, no centro da cidade, para pedir […]

Rio de Janeiro – Parentes de vítimas da violência no Rio de Janeiro fazem nesta sexta-feira (17)uma manifestação em frente à Igreja da Candelária, no centro da cidade, para pedir que as dezenas de mortes no estado não sejam esquecidas. Um painel com 10 metros (m) de comprimento e 4 m de altura, com os nomes de diversas vítimas, foi colocado em frente à igreja, além de cartazes e flores em homenagem aos mortos.

Segundo Adriano Amieiro, um dos organizadores do evento e irmão da engenheira Patrícia Amieiro, desaparecida há dois anos, essa atividade será realizada anualmente no início de dezembro. Ele disse que durante o ano ocorreram oito reuniões para definir metas voltadas à união dos parentes de vítimas.

“A gente teve dificuldade para a liberação do evento, ficamos um mês tentando, mas a prefeitura cedeu o espaço. Todo ano a gente vai organizar um dia em memória das vítimas da violência.” Segundo ele, a ideia é que seja aprovada uma lei instituindo a data. “O objetivo principal do painel é homenagear as vítimas da violência e cobrar das autoridades. Aqueles que não tiveram seus casos resolvidos e casos que foram esquecidos pela imprensa vão estar sempre aqui unidos. É um marco na nossa cidade, que eu acredito que vá se expandir por todo o Brasil”, disse.

Amieiro disse que os parentes querem justiça e esse dia será sempre de cobrança às autoridades. Segundo ele, muitos inocentes moradores de comunidades pobres morrem e suas famílias não têm oportunidade de acesso à Justiça.

O presidente do Movimento Rio de Paz, Antonio Carlos Costa, acredita o Rio vive um momento de esperança, mas ao mesmo tempo, de apreensão, por causa dos avanços obtidos com as unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e a necessidade de mais investimento financeiro e humano para a sua sustentação.

“As UPPs são uma grande vitória do governo do estado do Rio, contudo ficamos apreensivos porque para dar sustentabilidade a um projeto como esse será necessário fazer muito investimento, tanto financeiro quanto humano”, disse. “Vamos ter que aumentar o efetivo das nossas polícias e o salário delas, e exercer uma supervisão muito próxima e eficiente para que alguns policiais não se corrompam nessas áreas, uma vez que o tráfico de drogas continua operando. Nós não sabemos também qual será a reação do narcotráfico nos próximos meses”, acrescentou.

De acordo com Costa, somente neste ano, segundo as estatísticas oficiais, ocorreram aproximadamente 27 mil mortes violentas. Ele destacou que, se for somado a isso o número de policiais civis e militares mortos, casos de latrocínio, lesões corporais seguidas de morte, entre outros crimes, o cenário seria de guerra civil no Rio.

“Se pegarmos os últimos dez anos, vamos chegar à marca aproximada – se incluirmos os desaparecidos, as tentativas de homicídio que resultaram em óbito e não foram consideradas homicídio doloso – de 100 mil mortes violentas.”

O presidente do Movimento Rio de Paz espera que a mudança ocorra por meio da valorização do trabalho policial. Para ele, além de as Forças Armadas e policiais entrarem nessas comunidades, é fundamental que os moradores sejam atendidos com políticas públicas de acesso à educação, lazer, saneamento básico, dentre outros serviços. Para ele, o tráfico deve ser “cada vez menos convidativo para o menino que não encontra sentido em passar o mês inteiro trabalhando para receber um salário que não é condizente com a dignidade humana”.

“O Estado está diante de um megadesafio, é um problema antigo, não estou querendo defender o governo, mas temos que ser justos: é um problema crônico, endêmico, não é apenas um problema de segurança pública, porque esse quadro é resultado de muita desigualdade social, do abandono dessas comunidades”, destacou Costa.

Os manifestantes vão ficar na Candelária até as 19 horas, quando acenderão velas e farão uma corrente pela paz.