Justiça Global quer que governo do Rio se desculpe por corrupção na polícia

Rio de Janeiro – A organização não governamental Justiça Global quer que o governo do Rio de Janeiro peça desculpas e repare os prejuízos de moradores do Complexo do Alemão […]

Rio de Janeiro – A organização não governamental Justiça Global quer que o governo do Rio de Janeiro peça desculpas e repare os prejuízos de moradores do Complexo do Alemão que tiveram casas invadidas e pertences roubados por policiais, durante operação no ano passado. Em manifesto divulgado em referência à Operação Guilhotina, da Polícia Federal, a ONG destaca que “a corrupção continua incrustada na cúpula da polícia fluminense”.

A operação Guilhotina começou na última sexta-feira (11) e pediu a prisão de 45 policiais civis e militares por ligações com narcotraficantes ou milicianos. Eles são acusados também de vazar informações sobre ocupações e desviar material de apreensão.

De acordo com um dos pesquisadores da Justiça Global, o psicólogo social Rafael Dias, o Estado tem responsabilidade sobre as ações policiais e deve indenizar os moradores do Alemão por danos morais e materiais. “Muitos relataram que suas casas foram invadidas várias vezes. Bens como eletrodomésticos e dinheiro foram levados. O Estado tem responsabilidade”, afirmou. Dias cobrou medidas para combater a corrupção no meio policial.

Interceptações telefônicas mostrando policiais comparando o Complexo do Alemão à Serra Pelada confirmam, na opinião da ONG, os relatos de moradores e reforçam que “as forças policiais exercem um papel central nas engrenagens do crime”, diz o manifesto. Serra Pelada, no Pará, se tornou conhecida nos anos 1980 pela quantidade de ouro encontrada na região, fazendo com que milhares de pessoas se dirigissem paral lá em busca de enriquecimento fácil.

À época da ocupação do Alemão e do Complexo da Penha, a entidade alertou para o fato de a região estar “sendo garimpada, o que classificou como caça ao tesouro do tráfico” e encaminhou denúncias para organismos internacionais.

O professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), José Augusto Rodrigues, lembra que, durante a operação, policiais foram proibidos de entrar no morro com mochilas, numa tentativa de conter os saques. Para dar transparência à ação policial, Rodrigues também recorda que foram instalados nos morros gabinetes da Defensoria Pública e da Corregedoria-Geral Unificada.

Mesmo assim, Rodrigues avalia que, na operação no Alemão, “houve uma certa improvisação das questões de direitos humanos e civis”, como revela relatório da Justiça Global. Ele cobra reformas na atividade policial. “Alguma taxa de corrupção é quase inevitável. Mas é necessário o fortalecimento de alguns mecanismos, reformulação do treinamento e de programas. Seria necessário uma polícia da própria polícia e controle externo”, afirmou.

A Secretária de Segurança Pública disse que não se pronunciará sobre o manifesto da ONG.