Coleta ‘seletiva’ da prefeitura mais atrapalha do que ajuda cooperativas
Do volume de resíduos recolhidos diariamente pela Secretaria de Serviços, 25% não são recicláveis
Publicado 15/02/2013 - 17h07
Presença de restos de alimentos, madeiras e animais mortos produzem insalubridade e perda de tempo e dinheiro (Foto: Danilo Ramo)
São Paulo – Além da pouco abrangente, a coleta “seletiva” feita pela prefeitura de São Paulo mais atrapalha do que ajuda os programas de reciclagem na cidade. Grande quantidade do material levado pela prefeitura às cooperativas não se aproveita – por tratar-se de lixo não reciclável – e acaba tomando espaço dos resíduos que deveriam estar ali. Os rejeitos são da ordem de 25%, segundo a própria administração.
Cerca de 221 toneladas de resíduos sólidos recicláveis são recolhidas por dia nos serviços oficiais de coleta. Esse volume abrange apenas algumas ruas de 74 dos 96 distritos da cidade – e corresponde a menos de 1% do total que poderia ser reaproveitado. A Fernando Haddad (PT) promete aumentar a coleta, incluindo à rede mais 17 centrais de triagem.
No entanto, a presença de lixo orgânico onde deveria existir apenas recicláveis faz com que, atualmente, os cooperados percam tempo e dinheiro.
Na cooperativa Nova Esperança, em Ermelino Matarazzo, zona leste, onde o índice de rejeito é de 20%, o material levado pela prefeitura tem que passar por uma pré-triagem na parte externa do galpão. A presença de alimentos, madeiras e até animais mortos produz mal cheiro e atrai insetos e ratos, expondo os cooperados a um ambiente insalubre.
Além disso, com os pátios cheios, muitas vezes a cooperativa tem que recusar novos carregamentos de materiais que chegam em caminhões, o que provoca atrasos no serviço prestado. “Fica aquela discussão que a gente não quer, mas na verdade a gente não tem como receber”, conta David de Almeida Barreto, presidente da cooperativa.
Já na modalidade de coleta feita diretamente pela Nova Esperança, o rejeito não passa de 5%. “Nós fazemos todo um educativo com as escolas, com os condomínios. Por isso tem essa diferença”, explica Selma Maria da Silva, responsável pelo educativo da cooperativa. “Abordamos, levamos folhetos. Falamos da geração de renda que a coleta gera, do meio ambiente. Nas escolas, falamos para as crianças e elas contam para os pais. Depois elas vêm aqui e ficam dizendo que aquele copinho era dela. É um barato”, explica. “Esse material que a prefeitura traz a gente não sabe de onde vem e não tem como fazer esse trabalho”, aponta.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Serviços informou, por e-mail, que também faz campanha educativa, com “teatros em escolas, além de palestras e fóruns de debates para jovens e associações”. Mas não explicou a razão da diferença nos índices de rejeitos não recicláveis.
Na Copamare, uma das mais antigas cooperativas da América Latina, não há parceria com a
prefeitura. Todo material é coletado diretamente em shoppings e condomínios ou levado até o local em Pinheiros, na zona oeste, por moradores da região.
A situação é a mesma na maioria das cooperativas credenciadas na prefeitura, afirma Eduardo Ferreira, o Dudu, coordenador do Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável. A parceria com o poder público nos atuais moldes interessa para as cooperativas porque o convênio custeia parte das despesas das cooperativas, como luz e telefone. “O ideal seria que a prefeitura remunerasse a gente pelo serviço prestado”, aponta Dudu.
Segundo a prefeitura, o material levado para as 20 cooperativas credenciadas é recolhido em uma área que abrange 11.025 vias e 1.500 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), contêineres plásticos espalhados pela cidade. A disposição desses PEVs pela cidade é criticada por especialistas.