Universidades públicas de São Paulo não confirmam proposta de plano de cotas

Em matéria veiculada por jornal, reitor da Unesp afirma que proposta será enviada ao governador ainda nesta semana

São Paulo –  As universidades estaduais de São Paulo – USP, Unesp e Unicamp – não confirmaram o fechamento de um plano de políticas de cotas anunciado hoje (26) pelo jornal O Estado de S. Paulo. Na reportagem, o reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan, afirmou que, aos moldes da Lei de Cotas instituída pelo governo federal, a proposta foi fechada na última quinta-feira (22) pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp), que criou em outubro uma comissão para discutir um plano de inclusão social.

Durigan disse que a proposta para o programa de cotas já foi escrita e vai ser apresentada nesta semana ao governador. “Estamos fazendo o mesmo que o governo federal, mas com mais qualidade”, afirma. No entanto, as assessorias das três universidades – incluindo a Unesp – não confirmaram a versão hoje (26) e disseram não ter informação oficial sobre o tema. Foi reconhecido apenas que existe uma comissão que debate a formulação do plano de cotas.

Como apurado pelo Estadão, as cotas estaduais levariam em conta critérios sociais e raciais, assim como a lei federal. Metade das vagas seria reservada para estudantes com renda familiar igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, sendo 35% destinados a pretos, pardos e índios.

Ainda segundo Durigan, o projeto propõe bolsas e cursos de reforço que garantiriam a permanência dos alunos nas universidades. Os cursos teriam duas modalidades. Um deles seria preparatório e anterior à entrada na universidade, de até dois anos, que valeria também já como um curso de nível superior. “O curso daria um diploma de nível superior a estes alunos, um diploma intermediário. E depois estariam aptos a entrar na universidade ou poderiam entrar no mercado de trabalho”, disse o reitor ao Estadão.

Ele afirmou ainda que esse curso seria um diferencial por já direcionar o estudante para o mercado. “O que nós queremos é levar esse aluno para cima. Os alunos que entram nos vestibulares mais concorridos já ficam dois ou três anos no cursinho. Os alunos que vão fazer o reforço antes da universidade não vão fazer um cursinho, mas um curso voltado ao trabalho.”

A outra proposta seria um curso de reforço paralelo após a entrada na universidade, nas matérias em que o aluno tiver se desempenhado mal no vestibular.

Douglas Belchior, conselheiro da União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (UNEafro), movimento que agrega militantes da causa anti-racista, considera a ideia dos cursinhos, como colocada pelo reitor da Unesp, como um esforço das universidades de construir uma etapa anterior ao acesso objetivo à universidade. “Pelo que vemos na formulação que foi dada pela imprensa, será criada uma barreira, uma etapa a mais para quem está tentando entrar no ensino superior.”

Segundo ele, o fato de o curso ser preparatório também ao mercado de trabalho é algo que teria o papel de excluir os alunos beneficiados pelas cotas da universidade. “Isso empurra o estudante para o mercado de trabalho e para fora da universidade. Não que seja ruim essa capacitação, é sempre positiva, mas isso pode ser feito com sua entrada efetiva na faculdade.”

Se o plano estiver de fato fechado e for enviado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), Belchior garante que o movimento negro irá se contrapor a ele. “Precisamos esperar sua formulação final, mas ele não nos contempla. Lutaremos pelas cotas raciais nas universidades paulistas.”

A participação do movimento social negro é lembrada pelo conselheiro da UNEafro como essencial a qualquer tipo de formulação de políticas afirmativas. “Precisamos exigir que os movimentos participem da elaboração, do estudo e da aprovação deste plano. O governo não pode, através das universidades, formular uma proposta que não dialogue com os movimentos e os interessados no assunto.”