Troca de Zona Azul por parquímetro em SP é excelente, avalia professor

Engenheiro de transportes lembra que talões de papel faziam sentido no tempo em que havia alta inflação, com menos moedas disponíveis e desvalorização rápida

Três décadas e meia depois de vir à tona, o talão de Zona Azul pode enfim ganhar aposentadoria em São Paulo. Os problemas com o bloquinho de papel utilizado desde 1974 nas ruas paulistanas ficaram claros no primeiro semestre deste ano, quando a prefeitura determinou o adiamento do reajuste de R$ 1,80 para R$ 3 devido à suspeita de que as fabricantes do talão retinham os talões para fazer a venda depois do aumento.

Desde então, a administração de Gilberto Kassab esteva mais ocupada com as restrições aos fretados, deixando de lado o tema do estacionamento rotativo. Agora, a prefeitura divulga que a cobrança pode passar a ser feita pelo parquímetro, equipamento colocado nas ruas que permite a cobrança eletrônica com moedas ou notas – a depender do sistema adotado, pode também ser feita a cobrança via celular ou internet.

José Alex Sant´Anna, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e doutor em Engenharia de Transportes pela USP, afirma em entrevista à Rede Brasil Atual que as folhas faziam sentido na época em que havia inflação, e as moedas, além de escassas, tinham rápida desvalorização. “Agora, quando você tem economia estável, em que o valor não se altera rapidamente, é razoável começar a pensar em alguma coisa desse tipo”, afirma. Ele adverte que o único porém é o risco de depredação, “um problema registrado em todas partes do mundo onde há parquímetro”.

A Companhia de Engenharia de Transportes (CET) testa a Zona Azul Eletrônica em alguns bairros da zona sul de São Paulo, mas muitos usuários não sabem da possibilidade de comprar o tíquete pelo telefone e outros reclamam que o número para o qual devem ligar não está visível.

Caso seja adotado o parquímetro, ressurge a possibilidade de discutir tarifas diferenciadas de acordo com a região da cidade. O conceito de estacionamento rotativo trabalha basicamente com a demanda para definição de preço: pontos em que há mais gente querendo utilizar devem ter uma tarifa mais alta ou a redução do tempo máximo de permanência, diferenciação que praticamente não ocorre na capital paulista.

José Alex Sant´Anna aponta que seria uma boa alternativa para deslocar a demanda de um lugar para outro de acordo com as necessidades, mas alerta que isso é preferível em lugares em que há transporte público de qualidade. “Se tivéssemos um transporte público que realmente atendesse às necessidades das pessoas, isso seria uma coisa óbvia. Hoje, infelizmente, nosso transporte público é caro e ruim. O que se gasta no fim das contas é mais do que gastaria com estacionamento e combustível de carro.”

Para o professor, o investimento em estacionamentos rotativos deveria ser complementar ao realizado em transporte público, prioritário a todas as outras políticas de mobilidade. Nos planos da prefeitura há ao menos 40 pontos localizados próximos a estações de Metrô ou a terminais de ônibus que devem ser transformados em estacionamentos verticais de modo a estimular a integração com os meios coletivos de transporte.

Quanto aos empregos gerados para os que vendem as folhas de Zona Azul, José Alex Sant´Anna considera que não há problemas, uma vez que há necessidade de mão-de-obra para fazer a fiscalização.