São Paulo

Projeto que busca mudar nomes de ruas começa com sarau na Avenida Golbery

Iniciativa da prefeitura paulistana inclui 'intervenções públicas'' em locais que homenageiam personalidades da ditadura. Primeiro ponto é em via do Grajaú que homenageia estrategista do regime militar

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Antes de tramar a abertura lenta e segura com Geisel, Golbery tramou com Castello a ditadura que durou 20 anos

São Paulo – O general Golbery do Couto e Silva (1911-1987), estrategista da ditadura, especialmente nas gestões Castello Branco e Ernesto Geisel, é o “tema” da primeira atividade do projeto Ruas de Memória, pela alteração do nome de logradouros que homenageiam agentes do período autoritário. Essa “intervenção pública” inicial ocorrerá neste domingo (31), a partir das 14h, na altura do 94 da avenida que leva o nome do general, no Jardim Lucélia, região do Grajaú, extremo sul paulistano: será organizado um sarau com o tema “Violência do Estado ontem e hoje”.

A iniciativa é da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. “Retirar esse tipo de homenagem de nossos espaços públicos é, em primeiro lugar, uma forma de reparação simbólica importantíssima para as vítimas diretas desses crimes que até hoje não viram seus algozes sendo julgados e punidos”, diz a coordenadora-adjunta de Direito à Memória e à Verdade, Clara Castellano. “É inaceitável que pessoas que comprovadamente cometeram crimes de lesa-humanidade continuem sendo colocadas, simbolicamente, como referências nacionais em locais de destaque da cidade.”

Para mudar nomes de ruas, é preciso aprovar projetos de lei na Câmara. A Secretaria de Direitos Humanos tenta sensibilizar a população para o tema, incluindo diálogo e manifestações culturais. Segundo o Executivo municipal, participam dessa ação coletivos como Praçarau, A Voz do Povo, Sarau Magoma, Jaçarau, Verso em Versos, Sarau do Pira, Preto no Branco (Tamo Vivo), Sarau do Mercado, A Plenos Pulmões e Sarau Candeeiro.

Golbery foi criador do Serviço Nacional de Informações (SNI). Dois anos antes do golpe de 1964, já na reserva, foi para o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), financiado por empresários temerosos do avanço do “comunismo” no Brasil e difusor de várias ações contra o governo João Goulart. Deixou o governo em 1981, durante o mandato do último general-presidente, João Figueiredo, depois de divergências internas relativas ao episódio do Riocentro, em que uma bomba explodiu antes do tempo, matando um oficial e ferindo outro. A Comissão Nacional da Verdade concluiu que o atentado foi um plano de militares para tentar retardar o processo de abertura política.