Participação

Por reforma política, movimentos intensificam campanha por Constituinte

Várias cidades realizaram atos nesta segunda (7); ideia é pressionar o Congresso a convocar votação exclusiva e aproximar tema das necessidades da população

Levante Popular da Juventude/CC

Grupo cercou e pintou a avenida Paulista, em São Paulo, pela reforma constituinte

São Paulo – Várias cidades do país realizaram ontem (7) o Dia Nacional de Luta pela Constituinte com o objetivo de pedir a realização de uma Constituinte Exclusiva que reforme o sistema político brasileiro. A ideia é realizar um plebiscito popular entre 1 e 7 de setembro para que a população desperte ao tema. Desde agosto de 2013, mais de 250 organizações, movimentos sociais, centrais sindicais e partidos políticos trabalham pela construção da ferramenta. Atualmente, já foram criados mais de 600 comitês populares em todo o Brasil. A votação, prevista para ocorrer na semana da pátria, trará apenas uma pergunta: “Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político?”

Em São Paulo, a manifestação reuniu 50 pessoas e interrompeu o trânsito na avenida Paulista por 20 minutos. Tempo suficiente para que palavras de ordem e paródias de músicas populares fossem repetidas dezenas de vezes e uma bandeira do Brasil fosse pintada no asfalto diante do Masp. A utilização das cores nacionais, repudiada em outras manifestações, fez parte da estratégia dos movimentos para dialogar com a população. “Queremos mostrar que uma forma de poder sentir orgulho e amor pelo país é lutando por mudanças de verdade”, afirmou Lira Alli, do Levante Popular.

A pauta da Constituinte foi proposta pela presidenta Dilma Rousseff (PT) logo após as jornadas de junho do ano passado, mas o tema perdeu força na agenda político-partidário.

Para Lira, o número de presentes pode ser explicado pelo fato de este ser um tema mais complexo, ligado à política e não à economia, diferente daqueles que atraíram multidões no ano passado.

“É muito diferente de barrar o aumento da passagem. Não fica tão claro para as pessoas o impacto do assunto na vida delas, mas com esse trabalho de base, de politização, a gente acha que o tema atende à demanda que foi manifestada no ano passado, de obtenção de mais direitos, de mais representação”, diz a manifestante.

Além disso, o grupo avalia que o espaço dado pela mídia foi decisivo para que as manifestações tivessem mais adesão naquele momento. “Nós sabemos que a grande mobilização das manifestações do ano passado tem muito a ver com a atenção que a grande impressa deu para o tema. Nós, que estamos há um ano nessa campanha, juntos com mais de 200 grupos, entre sindicatos, associações e movimentos sociais, não conseguimos 30 segundos para o tema”, comenta a estudante de Ciência Sociais.

Os atos fazem parte da campanha para chamar atenção para o assunto e motivar a participação no plebiscito popular, mas ainda que sejam obtidos os 10 milhões de adesões que desejam, a convocação da constituinte depende de “vontade política”, já que apenas o Congresso pode instaurá-la.

“Essa é a primeira etapa. Primeiro, a gente quer uma Constituinte. Depois, vamos eleger deputados para ela e, nesse processo, dizer que vamos apoiar certas coisas. O agronegócio, por exemplo, vai defender outras. A gente não têm uma definição do que será esse novo sistema. Queremos que o povo decida”, ressalta.

Pelo Brasil

Diversos movimentos sociais, como CUT, MST, Levante Popular da Juventude, Consulta Popular, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Rede Fora do Eixo, Comitês Populares do Plebiscito, sindicatos, realizaram atos e intervenções artísticas pelo país no Dia Nacional de Luta pela Constituinte.

Panfletagens, colagem de cartazes, pinturas, baterias de rua, aulas públicas e ocupações culturais foram algumas das formas usadas pelas organizações para debater o tema com a sociedade.

Jaime Amorim, da coordenação nacional do MST, acredita que “o nosso sistema representativo está falido. Uma reforma política é necessária para que a sociedade civil tenha cada vez mais espaço nas decisões tomadas pelos nossos poderes.”

Para Diva Braga, da Consulta Popular, a luta pela Constituinte se coloca como a mais significativa luta política desde as Diretas Já! “Essa é a nossa prioridade de lutas atualmente, pois congrega a participação da sociedade civil e das diversas pautas de interesse do povo Brasileiro na luta por mudanças estruturais do país. E o plebiscito é a ferramenta de organização do povo nesta luta.”

As ações ocorreram, além de São Paulo, nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, Sergipe, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e Pará.

Mato Grosso do Sul

Na manhã desta segunda-feira (7), foi realizada uma manifestação dos movimentos sociais no centro de Campo Grande-MS em defesa do plebiscito popular pela Constituinte Exclusiva.

O local escolhido para a atividade foi simbólico, pois o banco Bradesco é um dos maiores financiadores privados das campanhas políticas eleitorais. Segundo a organização é este tipo de financiamento que impede que os setores populares e sindicais tenham um número maior de representantes nas câmaras legislativas.

O ato buscava conscientizar as pessoas que passavam e panfletos foram distribuídos na atividade.

Segundo Walkes Vargas, da Secretaria Operativa do Plebiscito e membro do Fórum Municipal de Juventudes de Campo Grande, “a atividade foi muito positiva, as pessoas pegavam nossos materiais e vinham conversar. Estamos muito animados e pretendemos colher 10 milhões de votos no país neste Plebiscito Popular.”

Para Iaci Azamor, presidenta do Sindicato dos Bancários de Campo Grande e Região, “os bancos privados são os maiores financiadores de campanha. É o vínculo do capital com a política. Eles fazem isso para que seus interesses falem mais alto. Basta ver esta fila ao lado, para o pagamento de contas, tudo porque os bancos não querem mais oferecer este serviço.”

Azamor complementa: “nós, bancários, somos jogados na rua, igual esta fila, estamos perdendo nossos empregos para manter o lucro de bancos, que preferem a terceirização e gastam milhões com as campanhas políticas”.

Minas Gerais

Militantes e representantes de sindicatos e movimentos sociais, que fazem parte do Comitê Popular da Região Metropolitana de Belo Horizonte, realizaram nesta segunda-feira a mobilização Plebiscito na Rua para a divulgação do Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva e Soberana da Reforma do Sistema Político. Além da distribuição de panfletos e do diálogo com a população da capital mineira, foram coletadas assinaturas por uma proposta de reforma política, que é complementar à consulta popular, segundo Cazu Shikasho, coordenador do comitê e integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

“A mobilização, que começou às 10h e se estendeu até as 19h, também aconteceu em outras cidades do interior de Minas Gerais”, acrescenta Cazu.

“Tem que haver uma pressão para mudar as coisas, para que este Brasil cresça mais. E o povo vai ganhar com esta mudança”, pondera Manoel Santos, 68 anos, motorista aposentado que apoia o plebiscito e a constituinte exclusiva.

“Tem que ter reforma política, não pode mais ficar do jeito que está. Precisamos de educação e saúde de qualidade, de segurança pública. A roubalheira está grande. Veja o caso do viaduto que caiu na avenida Pedro I. Caiu porque priorizaram o lucro”, destaca a técnica em cuidado de idosos de 55 anos.

Pernambuco

No estado de Pernambuco, ocorreram atos em Recife, Caruaru e Petrolina. Na cidade do Recife, a mobilização aconteceu na Praça do Diário, centro da cidade e contou com panfletagem e exposição de faixas e cartazes.

“Este é um dia de lutas para mobilização do plebiscito em setembro. Portanto, um espaço de dialogar com a sociedade sobre como funciona o sistema político atual e quais mudanças poderão ser propostas”, enfatiza Paulo Rocha, secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Pernambuco.

Sergipe

Trabalhadores do campo e da cidade, movimentos sociais, sindicatos, juventude, coletivos de comunicação e cultura deram as mãos e ocuparam as ruas do centro de Aracaju, realizando uma manifestação educativa com esquete teatral para apresentar à população a luta pela constituinte para a reforma política.

O vice-presidente da CUT-SE, Roberto Silva, defende que todos tenham direitos iguais nas campanhas políticas e que o poder econômico não continue sendo o fator decisivo para a vitória dos políticos conservadores que sempre mandaram no Brasil. “A grande mídia nacional não tem interesse de reforma política porque ela se beneficia com o atual modelo político que empodera quem tem poder econômico. Este modelo político não favorece a população. Não precisamos do Senado, que nos custa muito caro e não passa de uma casa revisora sem necessidade de existir. Na campanha política, as propostas devem prevalecer e não o poder econômico e a compra de voto. O povo precisa votar na proposta, no projeto político.”

O artista Sinho, da Associação Sergipana de Hip Hop, avaliou: “Nós, jovens, mulheres, negros, somos sub-representados por este sistema político que aí está. Estamos juntos e misturados nesta luta pela construção de um novo sistema político realmente democrático.”

Com informações da CUT