Crime no Amazonas

Polícia encontra lancha de Bruno e Dom afundada em rio no Amazonas

Embarcação foi encontrada a cerca de 20 metros de profundidade, com sacos de areia para dificultar a flutuação. Local foi indicado por Jeferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, preso no sábado (18)

Polícia Federal/Divulgação
Polícia Federal/Divulgação
A Polícia Federal comunicou que a embarcação será submetida agora aos exames periciais necessários. O objetivo é elucidar o crime

São Paulo – A lancha em que viajavam o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foi encontrada, ontem (19), no rio Itaquaí, nas proximidades da comunidade Cachoeira, no extremo oeste do Amazonas. De acordo com nota da Polícia Civil, divulgada à noite, a embarcação foi localizada a cerca de 20 metros de profundidade, emborcada com seis sacos de areia para dificultar a flutuação. 

O local é próximo a onde Bruno e Dom foram assassinados, há duas semanas. Os dois estavam desaparecidos desde o dia 5, quando faziam uma viagem pela Terra Indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com 8,5 milhões de hectares. Os restos mortais do indigenista e do jornalista foram encontrados somente na última quarta-feira (15). Um laudo de peritos da Polícia Federal confirmou, no sábado (18), que eles foram mortos a tiros com munição de caça. A análise indica que Bruno foi atingindo por três disparos, dois no tórax e um na cabeça. Dom foi baleado uma vez, no tórax. 

No caso da lancha, segundo a Polícia Civil, o local onde ela foi afundada foi indicado por Jeferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”. Ele é o terceiro suspeito preso, desde sábado, por envolvimento na execução do indigenista e do jornalista. Os outros dois são os irmãos Amarildo Oliveira, conhecido como “Pelado”, e Oseney Oliveira, o “Dos Santos”. Foi Pelado quem indicou o local onde estavam os corpos, após confessar sua participação no crime. 

O que se sabe

Ainda segundo a Polícia Civil, também foram encontrados um motor Yamaha 40 hp e quatro tambores que eram de propriedade de Bruno, sendo três em terra firme e um submerso. Foram cinco horas de operação, segundo o delegado de Atalaia do Norte, Alex Perez, que contou também com o apoio da Polícia Militar do Amazonas, da Marinha do Brasil e do Corpos de Bombeiros. 

A Polícia Federal comunicou que a embarcação será submetida agora aos exames periciais necessários. O objetivo é elucidar o crime e entender como os assassinatos ocorreram. A principal suspeita é a de que a pesca e a caça ilegal estejam por trás dos dos crimes. A região do rio Itaquaí é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de tracajás, principalmente dentro da Terra Indígena Vale do Javari. A PF também apura a suspeita de que a atividade ilegal seja financiada pelo narcotráfico, presente em toda a tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia. 

Outros cinco suspeitos

Indígenas do Vale do Javari, que foram os responsáveis por mapear e indicar às autoridades a área de busca por Bruno e Dom, denunciam desde 2021 “a composição de uma quadrilha de pescadores e caçadores profissionais, vinculados a narcotraficantes, que ingressam ilegalmente em nossos territórios para extrair nossos recursos e vendê-los nos municípios vizinhos”. A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), à qual Bruno prestava serviços, afirmou já ter enviado essas informações sobre as invasões ao Ministério Público, à Polícia Federal e à Fundação Nacional do Índio (Funai). “Mas providências não foram tomadas com a devida rapidez”, denunciou em protesto na semana passada. 

Além dos três presos, a PF informa que há outros cinco suspeitos de envolvimento no crime. Eles já foram identificados por terem ajudado na ocultação dos cadáveres do indigenista e do jornalista. No entanto, não foram detidos.