Pesquisa mostra preconceito na escola contra filhos de prostitutas

Para autor do trabalho, educadores não estão preparados para cumprir o papel de socializar as diferenças

Pesquisa realizada em Santa Catarina, aponta um novo recorte ao preconceito contra prostitutas no Brasil. Apesar de ser reconhecidamente antigo, o passar dos anos e as mudanças nas condições de trabalho de profissionais do sexo não fizeram com que arrefecesse a resistência ao tema.

Marcelo Nascimento Mendes resolveu estudar as discriminações sofridas por filhas e filhos de prostitutas. “Os filhos da zona” nasceu quando ele passava em frente a uma casa de prostituição em Laguna (SC), pequena cidade a 118 quilômetros de Florianópolis, e notou que havia ali um parquinho infantil.

Pesquisando, descobriu que as crianças iam ao local nos dias de folga de suas mães. Durante a semana, no geral, muitos desses meninos e meninas ficavam em casas de famílias que recebiam uma ajuda mensal para que se responsabilizassem pela educação e pelo convívio diário.

Marcelo Mendes, que agora faz mestrado sobre o tema na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), aponta que a intenção dessas mães é dar aos filhos o ambiente tido como familiarmente correto. Para ele, um fato que evidencia que aquilo que é aceito socialmente está baseado em uma moral cristã e eurocêntrica. “A mãe que trabalha vendendo seu sexo é ‘desvio’ desse padrão, então não é socialmente aceita”, afirma.

A pior situação foi encontrada quando o pesquisador decidiu analisar o cotidiano escolar das crianças e como estava refletido o estigma social contra elas. “Os papéis de socialização das diversidades, de mediar conflitos, de mediar preconceitos fazem parte da função social da escola. Mas a gente se deu conta de que a escola não está preparada para trabalhar a socialização de forma que não seja preconceituosa”.

A saia justa em que ficam professores quando tratam do assunto reflete-se em algumas declarações feitas durante o levantamento. São falas como: “Eu acho que a profissão do sexo impossibilita a constituição familiar”, ou “Eu acho que é errado, não que eu esteja discriminando”, ou “Eu acho primeiro que a pessoa tem que procurar alguma coisa pra fazer; tem tantas coisas em que a pessoa pode trabalhar”, ou “Eu acho que é difícil pra criança acabar sabendo que a mãe é ou foi uma profissional do sexo”.

Outros educadores da escola em questão, na qual estudavam apenas crianças, defenderam que os filhos de profissionais do sexo devem receber tratamento diferenciado. Para as prostitutas, a escola simboliza uma estrutura segura emocionalmente para seus filhos, o que, no futuro, garantiria-lhes a possibilidade de “fugir” da profissão.

Não foi exatamente isso que Marcelo Mendes observou em seu trabalho. Ele conta que, quando há algum tipo de brincadeira preconceituosa por parte de outros alunos, o caminho mais comum é a omissão. “A professora, como não está preparada para perceber a diversidade, quando acontece alguma coisa muito gritante, ela simplesmente cala e chama atenção para algum outro ponto”, constata.