Pesquisa define políticas públicas para combater violência nas escolas

Levantamento no Distrito Federal destaca que maioria dos alunos já presenciou cenas de violência e de discriminação

Um grupo de pesquisadores trabalha na definição de políticas públicas para combater o problema da violência escolar no Distrito Federal. Não se trata apenas da violência “dura”, como roubos, furtos e agressões físicas, mas também da violência simbólica, ou seja, agressões verbais, atitudes hostis a questões de gênero, raça, opção religiosa ou sexual.

Os números que expõem a realidade escolar do Distrito Federal são um retrato que pode ser pintado em qualquer outra parte do país. Realizada pela Rede de Informação Tecnológica Latino-americana (Ritla) a pedido da Secretaria de Educação distrital, a pesquisa feita com dez mil alunos e professores a partir da quinta série do ensino fundamental da rede pública expõe que a maioria já viu algum tipo de violência ou mesmo sofreu discriminação.

A coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, lembra que a violência nas escolas reflete problemas internos da sociedade, como o machismo. Atualmente, há duas vezes mais professoras mulheres do que homens nos ensinos fundamental e médio. “Na medida em que essa profissão foi se tornando mais feminina, ela foi sendo desvalorizada – o que não é uma coisa que acontece só no Brasil”, destaca a socióloga em entrevista à Rede Brasil Atual.

Além disso, há questões préconcebidas sobre trabalhos que cabem aos meninos e que são para meninas. Miriam Abramovay exemplifica com a questão da resistência física, em que se acredita que “as meninas não estão aptas”. Com isso, até hoje as garotas que jogam futebol são estigmatizadas.

“Independentemente de a menina ser lésbica, isso não importa, é uma forma de xingamento, de desrespeito, de olhar a sexualidade como se ela pudesse ser uma só”, diz. Dois em cada três alunos presenciaram preconceito pela questão sexual e mais da metade dos professores confirma o fato. 

Da visão machista resulta que as meninas “têm um comportamento tido muitas vezes como masculino na sua forma mais brutal”. Algumas delas começam a levar armas para as escolas e até a formar pequenos grupos que imitam gangues. 

Viram agressão física na escola 69,7% dos alunos e 71,1% dos professores, percentual parecido ao de roubos e de furtos. Um em cada três alunos flagraram o porte de armas brancas, número similar ao de docentes. 

As regionais de ensino do Distrito Federal analisam os resultados entregues pela Ritla e estão discutindo políticas públicas para o setor. Além disso, professores passarão por cursos sobre violência. 

Miriam Abramovay, a partir da pesquisa atual, sente a necessidade de um levantamento sobre como a violência influencia na aprendizagem. “Nossos jovens precisam de acompanhamento social”, avisa. “Não se reconhecem a juventude e a adolescência na nossa sociedade. Isso é um dos grandes dramas da escola, que fala uma linguagem completamente adulta, que não chega aos alunos”, pondera.