Movimentos de moradia cobram de prefeituras projetos de habitação popular
Movimentos populares foram às ruas nesta quarta-feira (26) no centro da capital paulista, em Osasco, Taboão da Serra e outros municípios para reivindicar habitação digna
Publicado 26/07/2023 - 21h18
São Paulo – Movimentos populares de moradia reivindicam investimentos municipais para habitação popular. Nesta quarta-feira (26), manifestantes marcharam nas ruas do centro da capital paulista, de Osasco, Taboão da Serra e outros municípios. Em São Paulo houve atos no Largo Santa Cecília, Largo Santa Ifigênia e no Pátio do Colégio, seguidos de passeata até a sede da Prefeitura, no Viaduto do Chá.
A União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, que há mais de 36 anos atua na cidade São Paulo em defesa da reforma urbana, reivindica o acesso à moradia através de projetos de ajuda mútua e autogestão. E que em vez de privilegiar a especulação imobiliária, haja melhores condições de vida às pessoas mais pobres e excluídas. Em especial, as mulheres, idosos, jovens e crianças das ocupações no centro e nas periferias, nas favelas e cortiços.
Segundo a entidade, há mais de 3 milhões de pessoas vivendo em favelas e loteamentos irregulares. E mais de 600 mil pessoas em cortiços, além das mais de 50 mil pessoas em situação de rua e as mais de 200 mil pessoas ameaçadas de despejo.
“Em função da negociação de sua dívida com o governo federal e dos recursos aportados ao Fundurb, a cidade (de São Paulo) hoje possui um caixa abarrotado de recursos orçamentários e poderia avançar mais rápido e fazer muito mais para a solução de sua dívida histórica com o déficit habitacional”, argumentam os movimentos.
Em carta aberta ao poder público municipal, a União dos Movimentos de Moradia reivindica investimentos na urbanização de favelas, regularização fundiária e aportes financeiros para o programa Minha Casa Minha Vida.
Leia a íntegra da carta
CARTA ABERTA EM DEFESA DA MORADIA DIGNA NA CIDADE SÃO PAULO
A União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, entidade de que luta há mais de 36 anos na cidade São Paulo em defesa da reforma urbana e de uma cidade que garanta o acesso à moradia através de projetos de ajuda mútua e autogestão, projetos, que garantam o acesso à terra bem localizada, à urbanização de favelas e regularização fundiária. Lutamos por uma cidade justa e inclusiva que não privilegie a especulação imobiliária, que ofereça melhores condições de vida às pessoas mais pobres e excluídas que nela vivem e trabalham, em especial, as mulheres, os idosos, os jovens e as crianças, das ocupações no centro e nas periferias, das favelas, dos cortiços e dos conjuntos habitacionais.
Em função da negociação de sua dívida com o governo federal e dos recursos aportados ao Fundurb, a cidade hoje possui um caixa abarrotado de recursos orçamentários e poderia avançar mais rápido e fazer muito mais, para a solução de sua dívida histórica com o déficit habitacional: com mais de 3 milhões de pessoas vivendo em favelas loteamentos irregulares, mais 600 mil pessoas em cortiços, com a necessidade de mais de 500 mil novas moradias atender em programas habitacionais mais de 50 mil pessoas em situação de rua e solucionar a situação de mais de 200 mil pessoas ameaçadas em despejos coletivos.
- PROGRAMA PODE ENTRAR
- Melhoria e agilidade no fluxo de medição, prestação de contas, adequação de cronogramas e liberação de recursos – a normatização do programa no regime de autogestão tem dificultado o bom andamento das obras. Já apresentamos à COHAB, algumas sugestões de como esse processo poderia ser modificado.
Além disso, é necessário prover a COHAB de recursos humanos e sistemas de acompanhamento das obras compatíveis com o porte do programa.
- Imediata normatização e enquadramento das famílias integrantes dos empreendimentos – apesar dos primeiros contratos terem sido celebrados em outubro de 2022, até o momento não foi normatizado e, por consequência, efetivado o enquadramento das famílias beneficiárias dos empreendimentos. Isso tem trazido insegurança a estas famílias que estão participando da produção do empreendimento sem ter certeza de que estarão aprovadas para o financiamento, bem como insegurança às entidades que não têm ferramentas para assegurar essa permanência.
- Continuidade da contratação dos empreendimentos das entidades – É preciso dar solução a diversas situações ainda não resolvidas de áreas dos chamamentos de 2015 e 2016. É preciso desembaraçar terrenos com alguma pendência, dar continuidade ou retomar a desapropriação de áreas ainda não adquiridos para que as entidades possam efetivar os projetos habitacionais para que foram enquadradas.
- Novo chamamento para terrenos públicos e aquisição de terrenos – É fundamental, para a continuidade do Programa Pode Entrar Entidades, a realização de novo chamamento para terrenos públicos, bem como da construção de um edital para a aquisição direta de áreas para novos empreendimentos. Há uma enorme demanda organizada pelos movimentos populares em toda a cidade que pode ser parceira do município na busca da resolução do problema da habitação.
- Transparência e respeito ao Conselho de Habitação nas informações sobre as condições de compra e financiamento dos imóveis prontos de construtoras
- APORTE PARA O MCMV – ENTIDADES
O novo Programa Minha Casa Minha Vida entidades destinou o valor de até R$170 mil reais para as unidades produzidas na cidade de São Paulo. Sabemos que este valor é insuficiente para a produção na cidade, especialmente devido ao alto custo dos terrenos e insumos da construção.
A política de complementação desse recurso por meio de aportes feita pela Prefeitura de São Paulo foi fundamental para a viabilização do programa em nossa cidade. Nesse sentido, reivindicamos a retomada da concessão de aportes, conforme orçamentos aprovados pelo agente financeiro do MCMV, para os empreendimentos já contratados em 2016 e que agora se preparam para início de obras e para as novas seleções previstas para o final deste ano. Além disso, solicitamos com urgência a emissão de documento da municipalidade exigidos para a apresentação de novas propostas para o programa, previstas para o dia 7 de agosto, próximo.
- URBANIZAÇÃO DE FAVELAS E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
Dados recentes do censo do IBGE de 2022, trouxeram dados alarmantes sobre a quantidade de imóveis vazios. Entre 2000 e 2010 os imóveis vazios na cidade haviam caído pela metade, nos anos 2000 havia na cidade 421 mil imóveis vazios, em 2010, estes números caíram para 294 mil e agora, no censo de 2022, estes números, de forma trágica, mais que dobraram, chegando à 590 mil imóveis vazios. Em alinhamento a estes números, crescem na mesma medida na cidade, os assentamentos precários. Em 2014 havia em São Paulo, 1656 favelas, em 2021 eram 1728, e em 2023 já são 1747 favelas, e os números seguem aumentando.
Desde o desmonte do PAC Favelas, que dependia de recursos federais, a cidade foi diminuindo em todas s regiões os recursos diretos de atuação em favelas e loteamentos, restando apenas, neste momento, o Programa Guarapiranga/Billings, mesmo assim, com a grave paralização do Conjunto de João Cabanas na zona sul de SP, que se encontra com as obras de 3 mil unidades Habitacionais embargadas pelo judiciário. Sem urbanização aumentam na cidade as pessoas em áreas de risco.
Em relação à regularização fundiária, há também uma desestruturação do setor, com poucos técnicos e com uma enorme lentidão nos procedimentos, e agora com a absurda recusa pela CRF/Sehab de aceitar os protocolos de Reurb S. Neste momento, a Coordenadoria de Regularização Fundiária da Sehab, de forma ilegal, está exigindo uma tal consulta prévia, para protocolo de Reurb S, o que é inadmissível, pelo poder publico. Recusar protocolo é completamente inconstitucional.
- DESPEJOS
As constantes descontinuidades de projetos e programas e o retardamento na integração de políticas habitacionais na cidade, bem como, a não aprovação do Plano de Habitação, hoje engavetado na Câmara Municipal de SP, o avanço sem travas na agenda da especulação imobiliária e de programas ou projetos de privatização de territórios, com baixa ou nenhuma contrapartida social, com a massiva destinação de imóveis para locação temporária, vem gerando um aumento constante no preço da terra e dos aluguéis, com uma explosão de despejos na cidade, que só piorou com a pandemia, o número de famílias inteiras na rua aumentou, é necessário que que a prefeitura retome uma efetiva política de mediação de conflitos com despejo zero para as remoções administrativas.
- PPP DA HABITAÇÃO
As diretrizes de comercialização das unidades produzidas pela PPP de Habitação, publicada há poucos dias, prevê o atendimento de famílias com renda de até 20 salários mínimos. Além disso, não deixa claro a distribuição de unidades para cada estrato de renda, deixando apenas 15% para a faixa abaixo de 1 salário mínimo. Queremos manifestar nossa discordância dessa decisão. Em nossa cidade, o déficit habitacional é prioritariamente composto por famílias com renda inferior a 3 salários mínimos. A legislação define HIS como moradia para famílias de até 6 salários mínimos (FHIS 1 – de 0 a 3 SM e HIS 2 de 3 a 6 SM). A destinação de terra pública e de um programa habitacional não deveriam ser direcionados para as faixas mais altas de renda, que podem acessar financiamento habitacional por meio de outros programas.
- CONTROLE DA PRODUÇÃO HABITACIONAL EM ZEIS E DE HIS
É fundamental que a Prefeitura de São Paulo controle a destinação das unidades de HIS e HMP produzidas na cidade. Essas unidades recebem incentivos fiscais e de legislação urbanísticas, bem como, grande parte delas estão localizadas nas ZEIS. Desta forma, reivindicamos que o poder público assuma o protagonismo na destinação dessas unidades e fiscalize se, efetivamente, esses incentivos estão chegando a quem tem esse direito.
Redação: Cida de Oliveira – Edição: Helder Lima