Missa na Sé lembrará 40 anos da morte de Alexandre Vannuchi pela ditadura

São Paulo – Em 15 de março, na Catedral da Sé, no centro de São Paulo, será celebrada missa em memória dos 40 anos da morte do estudante Alexandre Vannuchi […]

São Paulo – Em 15 de março, na Catedral da Sé, no centro de São Paulo, será celebrada missa em memória dos 40 anos da morte do estudante Alexandre Vannuchi Leme, que cursava Geologia na USP quando foi assassinado, aos 22 anos. A missa faz parte de uma série de eventos em homenagem a Alexandre Vannuchi, que será reconhecido como anistiado post mortem pela Comissão de Anistia, durante ato na faculdade. Detalhes das atividades foram discutidos ontem (19) à noite, durante reunião com dezenas de entidades no Sindicato dos Engenheiros.

Militante no movimento estudantil e na Ação Libertadora Nacional (ALN), Vannuchi foi morto em 17 de março de 1973. Quando soube de sua prisão, seu José, pai de Alexandre, pegou o primeiro ônibus de Sorocaba, no interior, para São Paulo. Percorreu todos os órgãos policiais, mas não conseguiu sequer uma confirmação, nenhuma notícia do filho. A família soube depois, pelos jornais. Na Folha de S. Paulo, uma notícia trazia a seguinte manchete: “Terrorista morre atropelado no Brás”. Segundo a nota, Alexandre morreu atropelado por um caminhão no cruzamento da rua Bresser com a avenida Celso Garcia.

Com variações, outros jornais deram a mesma versão oficial. Mas os estudantes espalhavam uns para os outros: “Mataram o Minhoca”, referência ao apelido do colega. Vannuchi chegou a ser enterrado como indigente. A família só conseguiu enterrar o corpo em Sorocaba dez anos depois.

A primeira atividade relativa aos 40 anos da morte de Alexandre será realizada no próximo dia 27, às 17h30, com um debate aos calouros da USP. Em 14 de março, haverá um show e exposição no Centro Cultural São Paulo. No dia seguinte, às 12h, a Comissão de Anistia fará um ato simbólico no prédio da Geologia da USP. Às 18h, será celebrada missa na Catedral da Sé, revivendo um dos momentos mais tensos daquele período.

Em 1973, uma comissão procurou dom Paulo Evaristo Arns, recém-nomeado cardeal pelo papa Paulo VI. Ficou decidida a realização de uma missa no dia 30, às 18h30, na Sé. Não foi fácil participar daquela missa. A polícia fez bloqueios em várias regiões da cidade e circulava ostensivamente na região da catedral, que mesmo assim ficou lotada.

O cantor Sérgio Ricardo, convidado para o ato, cantou uma música que havia composto recente: Calabouço, lembrando de outros estudante, Edson Luís de Lima Souto, morto em 1968, no Rio de Janeiro, durante um protesto contra o preço da comida no restaurante estudantil Calabouço. Sérgio Ricardo estará presente na missa de 15 de março. Diz a letra:

Olho aberto, ouvido atento e a cabeça no lugar

Cala a boca moço, cala a boca moço

Do canto da boca escorre metade do meu cantar

Cala a boca moço, cala a boca moço

Eis o lixo do meu canto que é permitido escutor

Caba a boca moço, cala!

Olha o vazio nas almas

Olho um violeiro de alma vazia

Na saída da missa, dom Paulo ainda recomendou: “Tenham muita calma ao sair da igreja. Meditem em casa sobre o significado desta celebração”.

O ex-ministro de Direitos Humanos Paulo Vannuchi, primo de Alexandre, disse que o evento “é parte de uma longa luta para não esquecer o passado e pensar o futuro”. “O país vigoroso que temos hoje é resultado de luta de gente que foi assassinada como Alexandre e também das que estão aqui hoje”. 

Com informações da CUT e do livro Cale-se, de Caio Túlio Costa

 

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