Julgamento do Carandiru recomeça na próxima semana com seleção de jurados

Para promotor, adiamento, definido depois que uma jurada passou mal ao ler o resumo do processo, não compromete os trabalhos

Estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco fincaram hoje 111 cruzes em homenagem às vítimas do massacre (Foto: Apu Gomes/Folhapress)

São Paulo – O julgamento de 26 policiais militares envolvidos no massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992, iniciado hoje (8), foi suspenso e adiado para a próxima segunda-feira. Depois de 20 anos do massacre, o maior do sistema penal brasileiro, o conselho de sentença precisou ser dissolvido depois que uma das juradas se sentiu mal durante a leitura do resumo do processo. Ela foi atendida por uma equipe médica, mas a origem do problema não foi divulgada. Aparentemente, ela teria tido um abalo emocional devido às informações contidas no texto. O julgamento ocorre no Fórum da Barra Funda, em São Paulo.

Segundo um dos promotores do caso, Fernando Pereira da Silva,  o adiamento não compromete os trabalhos. “Nós estávamos prontos. Atrapalha porque houve toda uma preparação, mas a preparação que foi feita essa semana se mantém para a seguinte”, afirmou.

Na data marcada para o reinício do julgamento, outros sete jurados serão sorteados. Serão julgadas 26 pessoas que à época atuavam como policiais militares e participaram da invasão da Casa de Detenção durante uma rebelião. Eles são acusados pelo assassinato de 15 pessoas no segundo pavimento do pavilhão 9. Dois dos réus não compareceram hoje, alegando problemas de saúde. Oito dos acusados permanecem prestando serviços para a Polícia Militar; os demais, ou se aposentaram, ou saíram da corporação. Todos eles aguardaram o julgamento em liberdade.

O coronel Ubiratan Guimarães, que chefiava a operação de ocupação do presidio, chegou a ser condenado pelo Tribunal do Júri em 2001 a 632 anos de prisão. Depois, a pena foi revista e ele acabou absolvido em 2006, meses antes de ser assassinado. Antes, o coronel chegou a se eleger deputado estadual

A defesa dos 26 réus também acredita que o adiamento não trará prejuízos. Foi apresentada uma lista de dez testemunhas, entre elas o então governador de São Paulo pelo PMDB, Luiz Antônio Fleury, considerado pela defesa dos policiais acusados como “essencial” para provar que eles apenas seguiam ordens. “Ele vai poder explicar com foi determinada a ordem, o que aconteceu para o ingresso desses homens na casa de detenção”, afirmou a advogada Ieda Ribeiro de Souza. “Houve ordem. Ninguém na PM atua sem ser sobre ordem.”

Já as testemunhas apresentadas pela promotoria são pessoas que estavam presas no Carandiru no dia do massacre.

Alunos de da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo instalaram 111 cruzes em frente ao Largo São Francisco, centro da capital, para lembrar os mortos no massacre.  O ato faz parte de uma série que está sendo preparada para discutir a política de encarceramento em massa no país. Entre 1992 e hoje, a população carcerária brasileira aumentou cinco vezes, o que agrava o quadro que já era ruim.

Além disso, o massacre do Carandiru seria responsável pelo surgimento do Primeiro Comando da Capital (PCC).  “Esse massacre levou os presos a se organizarem contra a violência do estado. Foi uma forma de se proteger”, afirma o coordenador geral da Pastoral Carcerária, padre Valdir João Silveira.