'Entre Vistas' na TVT

Juca Kfouri recebe o especialista em pesquisa energética Mauricio Tolmasquim

Ao “Entre Vistas”, na TVT, o professor e ex-secretário executivo do Ministério de Minas e Energia do governo Lula avaliou os efeitos da privatização da Eletrobras

TVT/Reprodução
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"Tem uma questão de negócio, nessa privatização vão ter grupos e pessoas que vão ganhar. E quem perde somos nós consumidores", lamentou Mauricio Tolmasquim

São Paulo – A poucos dias de completar 60 anos, a Eletrobras foi oficialmente privatizada no último mês. Foi a primeira grande estatal a ser vendida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) em quase quatro anos de mandato. O modelo de privatização foi o mesmo adotado no caso da Embraer, a estatal que também se tornou uma empresa sem controlador definido. Um dos principais motivos usados pelos governistas para justificar a privatização é a queda da conta de luz. O Ministério de Minas e Energia estima uma redução de 7,36% aos consumidores residenciais a partir da alta competição do setor. O argumento, porém, é invalidado por especialistas da área, que afirmam que a consequência será o contrário disso. É o que explicou um dos maiores especialistas em pesquisa energética do Brasil, Mauricio Tolmasquim, em conversa com o jornalista Juca Kfouri no programa Entre Vistastransmitido na noite de ontem (30) pela TVT

“Nesse processo de privatização da Eletrobras está embutido já o aumento de tarifas”, destacou. De acordo com o especialista que é ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética e ex-secretário executivo do Ministério de Minas e Energia do governo Lula, em 2012 o governo renovou as concessões das hidrelétricas, que estavam próximas do vencimento, sob a cobrança de R$ 75 pelo megawatt-hora (MWh). 

Conta mais cara e poluentes

“De tal maneira que hoje se paga uma cota para essas usinas que são da Eletrobras, que foi quem aceitou a prorrogação da concessão por R$ 75 por megawatt-hora. Mas, com a privatização, a Eletrobras privada vai poder vender a energia no preço que ela desejar. E o preço de mercado hoje está R$ 250 por megawatt-hora. E o governo (Bolsonaro) colocou uma medida de que parte do que será arrecadado (com a venda) vai voltar para reduzir a conta do consumidor. Mas é só uma parte, o impacto já vai ter ocorrido”, observa Tolmasquim.

Outro fator que também deve levar ao encarecimento da conta de luz a partir da privatização da Eletrobras é a contratação de 8 mil megawatts de usinas termelétricas alimentadas a gás. O que, conforme apontam simulações, custará R$ 52 bilhões a mais do que seria necessário para atender a mesma demanda sem utilizar esse tipo de usina. Além de mais caras, o especialista ressalta que o alto poder poluidor das usinas termelétricas serão responsáveis pela emissão de três vezes mais gases de efeito estufa. 

Consumidores perdem

A Eletrobras é a maior companhia do setor elétrica da América Latina. A empresa é responsável por cerca de um terço da energia elétrica do Brasil. Ela também detém 43% das linhas de transmissão que cortam o território nacional. A Eletrobras tem ainda papel central em programas de governo como a operação do “Luz para Todos”, instituído no primeiro governo Lula e que levou energia elétrica a mais de 16 milhões de pessoas. De acordo com Tolmasquim, o índice da população que tem acesso ao bem é de cerca de 99%. Um cenário ameaçado a partir da entrega da Eletrobras ao setor privado. 

Ao final da conversa com Juca Kfouri, o especialista lamentou a privatização e chamou atenção para o “componente ideológico muito grande contra as empresas estatais” do governo Bolsonaro. Ainda de acordo com Tolmasquim, há também interesses do mercado na venda da maior companhia de energia elétrica da América Latina. “Tem uma questão de negócio, nessa privatização vão ter grupos e pessoas que vão ganhar. E quem perde somos nós consumidores”, lamentou.

O Entre Vistas vai ao ar todas às quintas, às 21h30, na TVT. A íntegra desse e programas anteriores está disponível no canal de YouTube da Rede TVT

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