direitos humanos

Haddad quer sancionar até fim do ano lei rígida para punir trabalho escravo

Declaração do prefeito foi dada hoje (13), durante lançamento do Plano Municipal de Erradicação do Trabalho Escravo, que reúne 58 ações para reprimir e prevenir o crime, além de assistência às vítimas

Fernando Pereira / Secom

Haddad: “Acreditamos que esse tipo de crime, que afronta a dignidade humana, não seja passível de uma punição leve”

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que quer sancionar até o final deste ano uma lei municipal, de autoria do Executivo, que puna com rigor os empresários que utilizem mão de obra escrava em sua cadeia produtiva. A declaração foi dada hoje (13) – dia em que se comemora 127 anos da abolição da escravatura – durante o lançamento do Plano Municipal de Erradicação do Trabalho Escravo, que reúne 58 ações para reprimir e prevenir o trabalho análogo ao escravo e prestar assistência às vítimas resgatadas.

“O plano prevê um prazo para o Executivo encaminhar para a Câmara Municipal uma lei que puna severamente as empresas que se utilizarem do trabalho escravo. Não tem cabimento em pleno século 21 uma cidade como São Paulo não punir severamente o empresário que use trabalho escravo, seja de imigrantes, de mulheres, de crianças”, disse o prefeito. “Não queremos esse tipo de empresário na nossa cidade nem no nosso país e acreditamos que esse tipo de crime, que afronta a dignidade humana, não seja passível de uma punição leve.”

Sobre a punição, o plano já prevê que seja vedada a participação de empresas que comprovadamente utilizaram trabalho escravo em licitações e concessões com o poder público. Além disso, determina que o município monte uma base de dados para acompanhar os casos e inclua as vítimas no cadastro único do governo federal para ter acesso a programas sociais.

“É de extrema importância que a prefeitura declare a erradicação do trabalho escravo como uma prioridade, sobretudo o de crianças e adolescentes”, afirmou o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy, que comanda a pasta responsável pelo plano. “Apesar de estarmos em São Paulo o trabalho escravo ainda ocorre. Já houve casos inclusive nesta gestão.”

Ao todo, as ações do plano são agrupadas em cinco grandes temas: repressão, que reúne dez iniciativas; prevenção, com 14; assistência às vítimas (10); geração de emprego e renda (7); e gerais (17). O documento, que foi elaborado pela Comissão Municipal para a Erradicação do Trabalho Escravo (Comtrae), tem vigência de três anos, passado por sucessivos processos de avaliação, e contará com o trabalho conjunto de pelo menos cinco secretarias municipais e organizações da sociedade civil, como CUT, Conectas Direitos Humanos, Missão Paz e Repórter Brasil.

“Se tem uma coisa que vem dando certo é a união de diversos agentes públicos, do Judiciário e de esferas do governo no combate ao trabalho escravo. Vamos continuar firmes para combater a prática. É um tapete que já levantamos”, disse o superintendente Regional do Trabalho e Emprego, Luiz Antonio Medeiros. “Não há como defender a democracia sem lutar pela efetivação dos direitos humanos e sociais dos trabalhadores”, disse a procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho em São Paulo, Claudia Lovato Franco.

Quase 50 mil trabalhadores em situação análoga à escravidão foram resgatados nos últimos 20 anos, como divulgou hoje o Ministério do Trabalho em cerimônia que celebrou o aniversário do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM). Só em 2014, 1.674 vítimas foram resgatadas no Brasil. Este ano, até maio, foram 419.

Minas Gerais foi o Estado com mais trabalhadores resgatados: 380. Em segundo lugar está São Paulo, com 176. A construção civil foi a atividade que teve mais resgates (452 em 2014), seguida pela agricultura, com 358, e pela pecuária, com 238.