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SP: secretário de Cultura defende novas formas de se ocupar espaços da cidade

“A geração, sobretudo a mais jovem, está retomando como valor de vida a reconstrução do domínio público', diz Nabil Bonduki. Evento neste sábado tem ações gratuitas realizadas colaborativamente

Flickr / BeStyle

Festival discute o financiamento coletivo, espaços colaborativos e ocupação urbana

São Paulo – A cidade tem vocação para ser um lugar de convivência da comunidade em espaços compartilhados. Essa é a ótica do CoCidades, Festival de Iniciativas Colaborativas, que chega em sua segunda edição na cidade de São Paulo amanhã (26).

Com realização em parceria da produtora AHH! e das secretarias de Cultura e de Desenvolvimento Urbano, o evento reúne uma série de ações elaboradas por meios colaborativos. Trabalhos sociais, culturais e artísticos convergem com a ocupação urbana pelas pessoas. As atividades ocorrem em várias regiões da capital paulista com objetivo de rever o espaço comum.

“As expressões cocidade, coworking, colaborativo e compartilhar têm em sua raiz o comum. É uma outra maneira de se organizar”, argumenta o secretário municipal de Cultura, Nabil Bonduki, em entrevista para a RBA. “Existe de fato uma outra forma de ver a cidade. Tentando não fazer obras de estrutura, mas renovar as formas de uso dos espaços”, completa.

Visões que contrastam com o senso comum incomodam. São Paulo passa por um processo de redescobrimento do espaço público, o que causa resistência. Parte da cidade, que fora construída a partir da ótica dos carros e do individualismo de massa, brada contra bicicletas, abertura de vias para pedestres e faixas exclusivas para o transporte público.

Contudo, a alteração do paradigma do excesso de pessoas isoladas em seus mecanismos individuais (carros e grades) é iminente. “A geração, sobretudo a mais jovem, está retomando como valor de vida a reconstrução do domínio público, a democratização e outras formas de mobilidade”, afirma o secretário.

O crescimento expoente de ações colaborativas, como o coworking (locais de trabalho compartilhado e colaborativo) e o crowdfunding (financiamento coletivo), caminham com as mudanças nos modelos padrões. “São Paulo sempre foi conservadora. Eu acho que chega o momento que não tem mais para onde ir. É um trabalho difícil, mas este crescimento vai ajudar a conscientizar mais pessoas”, argumenta um dos idealizadores do CoCidades, Deco Benedykt.

“A mudança é uma questão de informação e conscientização”, afirma Benedykt. “Um tempo atrás, por exemplo, quando começamos uma campanha de crowdfunding, eu divulgava e o feedback das pessoas era ‘não dou esmolas’. Elas não conseguiam entender. Agora, pessoas que diziam isso apoiam essas iniciativas”, concluiu.

A programação completa está disponível no site cocidade.com.br.

Leia a íntegra da entrevista com Nabil Bonduki

Na atual gestão, a cidade vem experimentando maiores ocupações dos espaços. Qual o papel desse tipo de iniciativa (CoCidades)?

O evento surgiu a partir de uma iniciativa de agentes da sociedade. A prefeitura deu apoio e reconheceu a importância. Nesta segunda edição, a prefeitura colaborou de forma mais ativa no apoio, no amparo e nas discussões do evento.

São Paulo está alinhada com o fluxo progressista? Não apenas a prefeitura, mas os cidadãos?

Acredito e defendo que a gestão Haddad é progressista, que se identifica com iniciativas progressistas da sociedade. Ao mesmo tempo, algumas dessas manifestações se identificam com o governo.

A questão por trás de tudo isso é uma inflexão no modelo de vida urbana, na cultura urbana, sobretudo a partir de uma geração mais jovem que talvez não queira perpetuar o cotidiano herdado. A geração está retomando como valor de vida a reconstrução do domínio público, a democratização e outras formas de mobilidade.

Tem de fato uma outra forma de ver a cidade. Tentando não renovar, fazer obras de estrutura, mas renovar as formas de uso.

Toda mudança de paradigma, que vai de encontro ao senso comum provoca resistência. É possível notar a vertente progressista e em contrapartida um avanço do conservadorismo. Qual sua visão da economia colaborativa? 

Acho que estamos revendo formas de produção, modelos de produção. Naquela grande planta fordista centrada, monopolizada. Os detentores dos meios de produção na visão marxista, é isso que está sendo relativizado. Parte da força produtiva encontra na cidade o lugar prioritário de sua produção. Isso está se sustentando de forma mais difusa em redes colaborativas e de compartilhamento. Sobretudo os meios de produção e forças de trabalho estão fundidas nessas iniciativas empreendedoras que se organizam em formas compartilhadas de trabalho. As expressões cocidade, coworking e colaborativo têm uma raiz, que é a questão do comum. É uma outra maneira de essa geração se organizar.