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Feira em São Paulo mostra expressões de solidariedade além da economia

Durante evento de economia solidária na capital, inovação, sustentabilidade e inclusão estiveram ao lado de produtos saudáveis a preços acessíveis

Lucas Duarte de Souza/RBA

Tenda da agricultura familiar foi destaque em feira de economia solidária de São Paulo: qualidade e preço acessível

São Paulo – Aberta na quinta-feira (5) e encerrada hoje (7), no Vale do Anhangabaú, região central de São Paulo, 1ª Feira de Economia Solidária e de Agricultura Familiar apresentou iniciativas inovadoras, produtos e serviços a preços acessíveis e intervenções artísticas para mostrar alternativas para o fortalecimento de produtores locais, inclusão e sustentabilidade para um setor que, atualmente, representa 2% do PIB nacional. O evento foi promovido pela prefeitura paulistana, por meio da secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Emprego (SDTE).

Em sua maioria, os expositores são beneficiários de programas federais e municipais para o setor, formas de incentivar a independência de empreendedores excluídos do sistema de produção tradicional capitalista. É o caso de Karine Penha Johansen, agricultora da região de Juquiá, no Vale do Ribeira.

“Antigamente, tinha os grandes produtores e, às vezes, eles não davam conta da demanda. Então eles iam até os pequenos e ofereciam um valor muito baixo pelo produto. As cooperativas quebraram em grande número essa lógica, melhorou muito nos últimos anos”, explica Karine. A cooperativa de Karine, Coopafarga, vende seus produtos principalmente para algumas prefeituras, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

O programa foi implementado em 1955, mas foi só em 2009, durante o segundo mandato do ex-presidente Lula, que uma lei complementar determinou que 30% dos valores do fundo deveriam ser destinados à compra de produtos oriundos da agricultura familiar. A medida, segundo os produtores, acelerou a atividade dos pequenos produtores rurais e elevou a qualidade das merendas servidas nas escolas públicas, sobretudo nas redes municipais. Começamos a melhorar quando veio a lei (do Pnae). Antes éramos uma associação pequena, de três agricultores. Agora a cooperativa cresceu e os agricultores cresceram. A vida vem melhorando bastante, disse Karine.

A feira, que compõe um conjunto de política públicas de a cadeias produtivas locais e sustentáveis, nasceu de uma proposta da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol). Para o diretor de cultura da entidade, Eduardo Barbosa, o Bob Controversista, a atual gestão municipal de Fernando Haddad (PT) vem abrindo mais o diálogo com essas formas alternativas de atividade econômica.

“Temos uma gestão que abre para um bom diálogo. Muitos ainda confundem o conceito com política de pobre para pobre, mas estão equivocados. A base é a economia, ou seja, fazer negócios, fazer o dinheiro transitar, só que solidário, pois os produtores não disputam, não se humilham. Não é a lógica do capital. O Artur é muito sensível com essa questão, conhecedor de economia solidária, e compra a briga”, afirmou Bob, referindo-se a ao secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Emprego da prefeitura, Artur Henrique.

Lucas Duarte de Souza/RBA
Antonio Carlos, cooperativista e participante do De Braços Abertos quer ‘recuperar investimento em nós’

Redução de danos

Trabalhando há oito meses em uma cooperativa que fabrica tijolos com materiais renováveis, Antonio Carlos participou do evento de economia solidária por ter aderido ao programa De Braços Abertos, também da prefeitura, voltado à recuperação voluntária de dependentes químicos.

“O objetivo de eu entrar neste projeto é retornar o investimento que a prefeitura faz em nós, que estivemos em situação complicada. A prefeitura vem abrindo portas que nunca foram abertas. Queremos evoluir para um mundo mais sustentável, um mundo melhor”, disse.

Temores

Bob Controversista disse recear que todos os esforços realizados nos últimos anos para dinamizar e viabilizar a economia solidária e a pequena produção, se esvaiam com um possível impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “De 2003 pra cá (ano do primeiro mandato de Lula) muita coisa mudou, e pra melhor. Por isso precisamos estar nas ruas para tentar inviabilizar o que está sendo colocado como um golpe. Quem viveu antes sabe o que é e tem ideia do que pode vir a ser”, diz.

Para ele, não é possível reconhecer um possível governo Michel Temer, colocado de forma golpista. “Caso aconteça um governo neoliberal, parece que teremos de partir para uma linha de rompimento com o Estado, buscar a democracia direta, montar nossas comunas, potencializar o cooperativismo e começar do zero. É a única saída”, afirma. Contudo, o diretor de cultura não usa a palavra medo. “Não cabe a palavra medo, pois venho de antes dos avanços. Mas eu tenho filhos, tenho base. Sabemos que virão tempos duros.”