Desesperar, jamais

Fé e atitude: o bispo dom Pedro Luiz Stringhini no programa ‘Entre Vistas’

“Não podemos perder a esperança. Vamos continuar anunciando a justiça e trabalhando por ela', diz o religioso, convidado do programa desta quinta-feira, na TVT

Reprodução/YouTube

Ao criticar o encarceramento em massa de pobres e negros, o bispo pergunta: “Os que mataram a Marielle já foram presos?”

São Paulo – O bispo da diocese de Mogi das Cruzes, dom Pedro Luiz Stringhini, é o convidado desta quinta-feira (28) do programa Entre Vistas, da TVT. Definindo-se como um discípulo de dom Paulo Evaristo Arns, que o ordenou padre, e de dom Luciano Mendes, que o ordenou diácono, Stringhini demonstra ter consciência sobre qual papel representa perante a igreja e a sociedade. “Tenho uma responsabilidade grande de não ficar calado quando tivermos que dizer certas coisas”, afirma.

Apresentado pelo jornalista Juca Kfouri, o Entre Vistas vai ao ar às 22h. Em tom provocador, Kfouri começa o programa perguntando se o lema da Campanha da Fraternidade de 2019 – “Serás libertado pelo Direito e pela Justiça” – não exige “muita fé para acreditar no Brasil de hoje”.

“De fato, o ambiente não é de otimismo”, concorda o bispo. “Em governos passados…quando o Lula foi eleito pela primeira vez, ele falou um ‘economês’ que todo mundo entendia: ‘Quero que todo brasileiro possa ter alimentação’. Esse princípio econômico nós entendemos que é também um princípio de fé”, explica.

Assista a partir das 22h desta quinta

Em tom de saudade, dom Stringhini recorda os debates durante a elaboração do Estatuto do Desarmamento, um “ambiente gostoso”, disse. “Agora se fala no direito de ter (armas), eu não quero, eu quero que o Estado defenda a mim e a todo cidadão.” E apesar das dificuldades do momento, o bispo de Mogi das Cruzes se mantém firme na crença por dias melhores. “Não podemos perder a esperança. Vamos continuar anunciando a justiça e trabalhando por ela.”

O genocídio e o encarceramento em massa da juventude pobre e negra foram um dos temas abordados no programa. Assunto que fez o bispo ponderar que boa parte dos cerca de 800 mil presos do Brasil ainda não foram sequer julgados, enquanto quase um ano depois, o Estado brasileiro segue sem dar respostas sobre os assassinos da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e seu motorista, Anderson Gomes.

“Os que mataram a Marielle já foram presos?”, questiona, criticando a falta de solução para o crime, apesar de todo o aparato de segurança da intervenção federal no Rio de Janeiro. Stringhini também fala sobre determinados pontos do projeto anticrime apresentado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. Segundo o bispo, algumas propostas aumentarão o encarceramento em massa e a justificativa de “legítima defesa” para assassinatos. “É muito séria essa licença para matar, não é possível”, afirma.

Ao citar a resistência protagonizada pela Igreja Católica do Brasil durante a ditadura civil-militar (1964-1985), Juca Kfouri pergunta se o país vive agora tempos parecidos, apesar da eleição de Jair Bolsonaro (PSL) ter sido pelo voto.

Para o bispo, há diferenças e semelhanças, e deve-se ressaltar o respeito pela escolha do povo. “Penso que é difícil voltarmos aos tempos da ditadura de 64, mas como diz o Evangelho: ‘vigiai e orai’. Temos que estar vigilantes, sem dúvida.”

Participam do Entre Vistas a economista Lucimara Malaquias, diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo, e a estudante de Direito Fernanda Curtis.