Estudo mostra que violência cai em SP, mas não há por que comemorar

Fórum Brasileiro de Segurança Pública adverte que onda de crimes registrada este ano mostra que São Paulo não tem um problema de orçamento na área, mas uma falha de gestão

São Paulo vive este ano uma onda de assassinatos atribuída a uma guerra entre PM e grupos armados (Foto: Diogo Moreira/Frame/Folhapress)

São Paulo – O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgou na última terça-feira (6), portanto durante a maior e mais persistente crise da área em São Paulo, a sexta edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Segundo a entidade, porém, há uma coincidência muito mais relevante. É que o anuário foi lançado “sob a égide de uma importante conquista no campo da segurança pública: a aprovação da Lei 12.681/2012, que cria o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas – SINESP, uma agenda de Estado, há muito reclamada pela sociedade tanto em termos de maior eficiência na gestão das políticas públicas, quanto no que diz respeito à transparência e à prestação de contas para a população”, diz o texto de introdução do estudo.

Segundo a cientista social Samira Bueno Nunes, secretária-executiva do FBSP, que coordenou o estudo junto com sociólogo Renato Sérgio de Lima, o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas criado pela legislação será um grande portal de informações sobre segurança. “Há um desafio no Brasil na gestão da segurança pública que é conseguir informações”, diz. De acordo com ela, São Paulo tem tradição em bons padrões de divulgação de dados e a legislação do estado obriga que eles sejam colocados à disposição trimestralmente. A dificuldade na obtenção do número de mortos na atual conjuntura, segundo ela, pode estar relacionada com a necessidade de se obter informações diárias por parte da imprensa.

O anuário mostra dados comemorados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, principalmente a redução do número de homicídios dolosos, de 4.321 em 2010 para 4.194 em 2011. O estudo mostra também a redução do índice por 100 mil habitantes. Em 2011, a taxa foi de 10,1 homicídios dolosos (com intenção de matar) por 100 mil habitantes, contra 10,5/100 mil em 2010, redução de 3,7%. 

O governo paulista comemora ainda os dados em comparação com outros estados, principalmente o Rio de Janeiro, onde houve em 2011 24,9 homicídios dolosos por grupo de 100 mil habitantes. Em Alagoas, o índice chega a assustadores 68,2/100 mil.

Mas, para o FBSP, a evolução dos números não chega a representar motivo para otimismos, o que a crise da segurança em 2012 demonstra claramente: “Ganhos, como a redução entre 2000 e 2011 dos homicídios em São Paulo, tendem a perder força, na medida em que não há normas técnicas, regras de conduta ou padrões capazes de modificar culturas organizacionais ainda baseadas na defesa do Estado e não da sociedade”, esclarece o estudo.

Os motivos da queda dos homicídios nos últimos dez anos em São Paulo, explica Samira, se devem a uma conjugação de fatores: evolução tecnológica e mais recursos às polícias, mudanças da composição demográfica (com mais idosos, a violência tende a cair), leis secas e campanhas de desarmamento, entre outros.

De acordo com Samira, apenas sete estados apresentam dados de uma maneira ruim: Maranhão, Rondônia, Tocantins, Amapá, Piauí, Roraima e Santa Catarina. Minas Gerais, que segundo ela tem informações de bom nível, entretanto não abastece o sistema federal. A partir da nova legislação, o repasse de verbas federais aos governos estaduais vai estar condicionado à alimentação do sistema de estatísticas criminais do Ministério da Justiça.

Os dados de São Paulo devem voltar a subir com a crise de 2012. Para a cientista política, o desafio agora é entender os motivos que levaram ao recrudescimento da violência no maior estado da federação. “Com certeza 2012 vai ter aumento. O que aconteceu em 2012? Entender isso é o desafio. É uma questão de gastos? Na nossa opinião, não. São Paulo é o estado que mais gasta com segurança. São R$ 12 bilhões por ano. Não é uma questão de gastar mais, mas melhor, gerir melhor os recursos”, diz Samira Bueno.

Para ela, o acordo entre governo estadual e federal para combater a crise, anunciado na última semana pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), e o governador Geraldo Alckmin (PSDB), pode ser positivo. “Mas trata-se ainda de um gabinete de crise”, constata Samira. Para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o problema precisa ser resolvido com soluções estruturais, entre as quais a articulação de competências entre União, Estados e Municípios e criando mecanismos efetivos de cooperação entre eles.