Decisão do MEC impede punição de aluno por ensino ruim, afirma professora

Sobre suspensão de vestibular de dez instituições, coordenadora do curso de Pedagogia da Unicamp afirma que enfim sistemas de avaliação servem para algo mais que uma comparação

A decisão do Ministério da Educação (MEC) de suspender o vestibular em dez cursos de pedagogia de baixa qualidade é vista com bons olhos por Ângela Soligo, coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em conversa com a Rede Brasil Atual, a professora manifestou apenas não entender o porquê de o MEC levar tanto tempo para tomar atitudes do gênero, uma vez que a má qualidade do ensino já se conhece há anos.

A decisão foi tornada oficial nesta segunda-feira (14) com base nos maus resultados obtidos por dez instituições ao longo dos anos. O MEC levou em conta o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), um dos instrumentos incluídos no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

Para Ângela Soligo, a criação do Sinaes e a formulação de políticas a partir dos resultados fazem com que, finalmente, as consequências do ensino de má qualidade não recaiam sobre os alunos. “Não basta constatar quais são os melhores cursos, onde estão os melhores estudantes, elaborar um ranking e não fazer mais nada com isso. Instituições que não oferecem condições mínimas têm de sofrer alguma consequência”, afirma.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, exerceu o mesmo tipo de raciocínio nesta segunda ao comentar a medida, afirmando que a intenção é proteger o direito do estudante. Ele apontou que as medidas devem se tornar cada vez mais comuns agora que o MEC conta com uma regulamentação mais clara do setor, evitando inclusive contestações jurídicas de medidas.

A professora da Unicamp concorda que leva tempo para elaborar um sistema de avaliação mais complexo. Ainda que considere excessiva a demora, ela afirma que a medida é importante na tentativa de reverter a visão da educação como mercadoria. “Uma instituição educativa, mesmo que privada, não pode ser considerada uma empresa. Antes de ser privada, ela é educativa. Tem de ter um objetivo que é a educação, o aluno”, explica.

O ministro Fernando Haddad afirmou que os cursos de todas as áreas passaram por processos semelhantes e podem ser impedidos de aceitar novos estudantes se obtiverem resultados ruins nas avaliações. Para ele, a suspensão do vestibular “não é o fim do mundo para a instituição”, porque ela pode não estar bem em uma área do conhecimento, mas ter excelência em outra.

A coordenadora do curso de Pedagogia da Unicamp discorda da visão do ministro. “Não quer dizer que todos cursos de um instituição não são bons. Mas desmerece a instituição porque ela não cuida da mesma maneira de todos os seus cursos. Sai com a imagem arranhada, e tem de sair mesmo”, pontua.

A professora considera que a situação dos cursos de pedagogia reflete como a educação é tratada no Brasil. Ângela Soligo reclama que a prioridade ao setor fica apenas no discurso e que, se o docente não tem valor, a formação dele também não terá. Com isso, proliferam-se as faculdades que oferecem um curso que não demanda grandes investimentos e que não recebe a devida atenção.