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Caso Amarildo: investigação deve ter foco na responsabilidade policial, diz ministra

'A polícia não poder aborda um trabalhador e ele desaparecer', afirma Maria do Rosário

antonio cruz/abr

Ministra diz que ofereceu ajuda ao Rio de Janeiro nas investigações

Brasília – A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse hoje (2) que é “preocupante” o fato de o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, no Rio de Janeiro, ter ocorrido depois de uma abordagem policial. Segundo ela, o inquérito deve ter como principal linha de investigação a responsabilização dos agentes policiais.

“Nos preocupa, sobremaneira, a abordagem policial e o posterior desaparecimento. A abordagem policial com o posterior desaparecimento leva à responsabilidade do desaparecimento, toda a investigação, o inquérito com a hipótese clara, concreta de que seja uma responsabilidade dos agentes públicos, do abuso de autoridade, da violência policial, algo com o qual não podemos mais conviver”, disse a ministra.

Segundo ela, a secretaria está acompanhando o caso e ofereceu acompanhamento externo ao estado do Rio de Janeiro. “Queremos acompanhar com os órgãos de direitos humanos e o conselho de direitos humanos”, frisou a ministra.

O secretário estadual de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, reagiu às declarações de Maria do Rosário. “Eu respeito a opinião da ministra, mas o instrumento constitucional brasileiro para apurar esses fatos é o inquérito policial. Acho que não há que se antecipar juízo de valor. Qualquer coisa feita fora do inquérito policial é especulação e isso prejudica a todos nós”, declarou.

Ele afirmou que, se for comprovada a participação de policiais militares, eles serão expulsos e levados à Justiça. “[Se o inquérito apontar o envolvimento de militares], esses militares vão para a rua. Não há outra resposta a não ser rua. Além de serem apresentados à Justiça, para que respondam criminalmente.”

O pedreiro Amarildo de Souza desapareceu no último dia 14 de julho depois de ser retirado da porta de sua casa por policiais militares e levado para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Para Maria do Rosário, o episódio não representa a falência do processo de pacificação de comunidades, mas demonstra a necessidade de melhorar a relação da polícia com a comunidade.

“Não acredito que demonstre isso [a falência do processo de pacificação]. Demonstra que sempre temos que melhorar. Mesmo em comunidades pacificadas devemos procurar construir uma cultura de polícia que esteja próxima. A polícia tem que ser o mocinho. Tem que estar junto com as pessoas da comunidade. Não pode abordar um trabalhador e ele desaparecer”, frisou a ministra.

Depoimentos

O delegado titular da Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, deverá ouvir hoje policiais militares da UPP da Rocinha, além de amigos e familiares e Amarildo.

Ontem, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, esteve na sede da Divisão de Homicídios para acompanhar as investigações a fim de esclarecer o paradeiro do morador da Rocinha. A Polícia Civil informou que não descarta a possibilidade de fazer a reconstituição do caso.