Campanha por fim da violência contra mulheres foca “agressões sutis”

Mobilização, que vai até 10 de dezembro, tenta ajudar mulheres que não têm coragem de denunciar agressores por conta de coerção física ou psicológica

A intenção da campanha é mostrar que todos são responsáveis pela violência contra as mulheres e que a sociedade como um todo acaba afetada pelo problema (Imagem: divulgação)

Foi lançada esta semana a campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”, uma parceria da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do governo federal, a ONG Agende Ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento, agências da ONU e empresas.

No Brasil, a ação, que ocorre simultaneamente em 159 países, debruça-se neste ano sobre as pequenas violências cotidianas, que ocorrem tanto no ambiente doméstico quanto na rua e no trabalho.

Marlene Libardoni, diretora executiva da Agende, explica em entrevista à Rede Brasil Atual que as violências menos visíveis são aquelas que tratam de cercear a liberdade das mulheres, como o impedimento de frequentar um evento social ou de desfrutar de lazer, e a insinuação a práticas sexuais por parte de um chefe.

“O que queremos neste ano é chamar atenção de cada pessoa, de cada instituição para que essa violência seja enfrentada. Essa violência do cotidiano, mais invisível, mais sutil, vai limando a capacidade das mulheres de enfrentar uma situação ruim dentro de casa, de ir para o mercado de trabalho, de sair para a rua”, afirma.

Fatores culturais

A campanha é organizada desde 1991 em todo o mundo. Inicialmente conduzida por entidades do movimento feminista, no Brasil a ação ganhou em 2003 a força da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. 

Durante os últimos anos, a questão central vinha sendo a criação e a execução de leis específicas de combate à violência contra as mulheres. A constatação é de que, sozinha, a vítima de agressões tem muita dificuldade em tornar público o problema.

Uma pesquisa divulgada este ano pelo Ibope mostra que 55% dos entrevistados, homens ou mulheres, conhecem casos de agressões e apontam a violência doméstica como principal preocupação das brasileiras. Até hoje, 22% das mulheres não conhecem a Lei Maria da Penha, criada para coibir a violência.

A maior parte da população atribui a ocorrência de agressões contra mulheres a fatores culturais e ao consumo de álcool. Marlene Libardoni concorda que a cultura machista está por trás desse tipo de problema. “Em algum momento na história da civilização as mulheres passaram a ser consideradas cidadãs de segunda categoria. O tratamento diferenciado é a base da violência. E tem, por outro lado, a aceitação de que é algo comum”, avalia.

A violência contra a mulher é tida pela Agende como um problema de toda a sociedade, e por isso o slogan da campanha deste ano é “Comprometa-se. Tome uma atitude”. Até 10 de dezembro serão organizadas manifestações públicas, debates, exposições e eventos chamando atenção para o tema. Na página da Agende na internet podem ser baixadas publicações e cartazes, além da programação prevista para a campanha.

Denúncia

A mulher que se sentir violentada pode buscar orientação ou fazer denúncias pelo telefone 180. A central de atendimento criada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres completa quatro anos na próxima semana.

No ano passado, foram atendidos 240 mil telefonemas, 1.700% a mais que o registrado no primeiro ano de trabalho, 2005. As ligações são gratuitas e podem ser feitas a partir de qualquer telefone.