Violência na pandemia

Milícias prejudicam isolamento social no Rio de Janeiro

Em levantamento, organização social relaciona aumento dos casos de coronavírus na Baixada Fluminense à pressão das milícias para volta do funcionamento do comércio

Tomaz Silva/EBC
Tomaz Silva/EBC
Negócios das milícias "são vinculados ao mercado real, ao funcionamento do comércio. Se isso para, a lucratividade, o ganho deles, começa a ser afetado", diz sociólogo e pesquisador do tema

São Paulo – A zona oeste do Rio de Janeiro e a região da Baixada Fluminense acumulam mortos e contaminados pelo novo coronavírus, mas muitos moradores não podem cumprir o isolamento social por ordem das milícias. É o que mostra levantamento da Iniciativa pelo Direito à Memória e Justiça Racial divulgado na quarta-feira (22). 

Apesar das dificuldades de apuração, a pesquisa aponta que há uma relação direta entre o aumento dos casos da doença com a pressão desses grupos criminosos para a volta do funcionamento do comércio. Apenas a zona oeste da cidade, por exemplo, concentra mais de um terço das mortes de todo o estado, principalmente nos bairros Campo Grande, Realengo e Bangu, que lideram em número de óbitos. 

Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, é o segundo município do Rio com o maior número de casos, com flagrantes diários de aglomeração e de desrespeito às medidas de isolamento social. Segundo o sociólogo e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) José Cláudio Alves, não houve por parte do poder público local um maior controle sobre a circulação das pessoas. 

O próprio prefeito Washington Reis (MDB) relutou em determinar o fechamento do comércio e deu diversas declarações públicas de que manteria também as igrejas abertas na cidade, chegando a argumentar em vídeo que “a cura virá de lá”, até ser internado com a doença no início de abril. No município e na região, a milícia “tem controle sobre as consultas e exames em hospitais públicos”, relata Alves em entrevista à repórter Viviane Nascimento do Seu Jornal, da TVT.

As ordens dos grupos milicianos contrastam também com as determinações das comunidades dominadas pelo tráfico. Em diversas favelas a ordem para isolamento e toque de recolher partiu de traficantes e facções em tom de ameaça. Para o professor, as diferenças de origem e das atividades econômicas exercidas por cada organização criminosa pode explicar o comportamento distinto. 

“Eles (milicianos) têm um leque de negócios vinculados ao mercado real, ao funcionamento do comércio, têm monopólio de áreas inteiras. Então, se isso para, a lucratividade, o ganho deles, começa a ser afetado”, explica. E devido às relações com o poder institucional, a pandemia ainda pode trazer para as milícias novas formas de negócios.

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