Graziano faz apelo para o Brasil ajudar a combater a fome mundial

Diretor-geral da FAO afirmou que pretende recuperar a organização com os recursos existentes (Foto: Ramiro Furquim/ Sul21) Porto Alegre – A programação do Fórum Social Temático 2012 (FST) iniciou nesta […]

Diretor-geral da FAO afirmou que pretende recuperar a organização com os recursos existentes (Foto: Ramiro Furquim/ Sul21)

Porto Alegre – A programação do Fórum Social Temático 2012 (FST) iniciou nesta terça-feira (24) com palestra do diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano. Ele falou sobre a importância da sociedade civil no setor privado para a segurança alimentar e nutricional, no Palácio Piratini. Destacou também a importância de recolocar o cooperativismo na agenda política internacional para a erradicação da fome. À frente do cargo na ONU desde o começo de janeiro, Graziano disse que pretende recuperar a FAO com os recursos existentes, mas que a organização não pode será única a enfrentar o tema. “Cada país tem de ter um plano de ação para dizer até quando pretende alcançar isso”, salientou.

No caso do Brasil, Graziano disse que o programa Brasil Sem Miséria, lançado em 2011 pela presidenta Dilma Rousseff, é uma meta. “São 16 milhões de miseráveis que estão cobertos pela rede social, não são necessariamente pessoas famintas ou subnutridas. Tem a margem dos que estão invisíveis ao estado, mas que, com o Busca Ativa, serão localizados e inseridos. Isso dará condições de erradicar a fome até o final da década”, estima.

Graziano disse que está preocupado em impulsionar o cumprimento da Meta do Milênio de erradicar a extrema pobreza e a fome do mundo até 2015. “É um deadline importante. Mas não estamos convencidos de que iremos reduzir a fome pela metade. Isso torna difícil explicar para a outra metade, porque não vamos erradicar a fome total. Então, essa meta nos impõe um primeiro passo”, falou.

Responsabilidade internacional

Na avaliação do diretor da FAO, o Brasil está em uma fase de transição de país receptor de ajuda internacional, para o seleto grupo de países doadores. Ele salientou a importância de aproveitar este reconhecimento internacional para auxiliar os países que necessitam. “O Brasil precisar criar uma nova institucionalidade. Precisamos ter uma agência de cooperação que seja efetivamente uma agência. Precisamos ter uma Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) internacional, de cooperação técnica, apoiando os países que precisam”, disse. E lembrou: “Grande parte do sucesso da Embrapa foi por importar conhecimento de outros países. Devemos esta contribuição técnica ao restante do mundo”.

Graziano disse que pretende criar uma subsede da Embrapa dentro da FAO, em Roma. “Cheguei da Alemanha com o ministro Mendes Ribeiro Filho (Agricultura) e digo que a agricultura não é só parte do problema, é parte da solução. A agricultura pode ajudar como forma sustentável de produção no planeta, com novas formas de produção que utilizem energia limpa, para evitar grandes gastos com energia de petróleo”, explica.

O diretor da FAO disse que irá recolocar o cooperativismo na pauta política da organização. “O cooperativismo desapareceu, mas não por decisão política. Na medida em que as pessoas se aposentavam, com a necessidade de se poupar recursos, esses postos de trabalho foram extintos. Isso é que dá deixar a burocracia sem comando político, sem visão política do que é prioridade. Estamos recriando a FAO com os recursos disponíveis e o espaço para os pequenos produtores e organizações sociais”, garantiu.

O governador gaúcho, Tarso Genro, anfitrião da atividade do Fórum Social Temático 2012 no Palácio Piratini, apresentou o programa estadual de cooperativismo, destacando as principais diretrizes de incentivo aos pequenos agricultores e de estimulo de utilização de energia limpa na produção. Ele também salientou o cumprimento do programa de erradicação da miséria extrema no Rio Grande do Sul. “O primeiro é a busca ativa dos deserdados que ainda não foram encontrados e não foram alcançados pelas políticas públicas de inclusão social. Aqui no RS, são 316 mil pessoas que estão na miséria”, admitiu.

O governador elogiou a atuação de Graziano à frente da FAO. “O Brasil conquistou a FAO pelas políticas de combate à miséria e à desigualdade que foram desenvolvidas aqui e que tiveram no centro de sua elaboração técnica e teórica José Graziano. Eu acompanho o trabalho dele desde a década de 1980. Me sinto lisonjeado por ele ter examinando nossos programas”, falou.

José Graziano disse que o exemplo gaúcho de agricultura familiar e cooperativismo influenciou na indicação de Graziano para o cargo de diretor da FAO. “Quero aproveitar essa imagem e ajudar a alavancar o apoio ao cooperativismo. Temos de difundir as boas práticas que nós temos”, afirmou.

Como novo marco regulador para o momento atual de crise econômica mundial, Graziano defende que o grande salto será dado com a participação democrática da sociedade. “Não serão mais receitas de futuro ditas em laboratórios financeiros, mas sim debates em fóruns pluralistas como este que nos levarão ao desenvolvimento. Utopia é achar que existe equilíbrio econômico possível sem equilíbrio social”, concluiu.

Fonte: Sul21