Ataques e mortes

Quase 1 milhão de pessoas são afetadas por 1.500 conflitos no campo em 2018

Balanço da Pastoral da Terra mostra que casos de violência contra as mulheres somaram 482, maior número em 10 anos. Foram assassinadas 28 pessoas, sendo 15 lideranças

marcello casal / abr

“Muito mais que números, análises, são histórias registradas, são pessoas, identidades, realidades”, afirmou a CPT

São Paulo – O número de conflitos no campo registrados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) cresceu 4% em 2018, chegando a 1.489, de acordo com balanço divulgado na tarde desta sexta-feira (12) em Brasília. O número de pessoas envolvidas aumentou 35,6%, para 960.630. O total de mulheres envolvidas em casos de violência chegou a 482, maior número em 10 anos.

“Muito mais que números, análises, são histórias registradas, são pessoas, identidades, realidades”, afirmou a CPT durante o lançamento, ao lado do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno. As entidades lembram que o número provavelmente é maior – estes são apenas os casos registrados. Quase metade dos conflitos (49%) ocorreu na Amazônia.

Um dado que chama a atenção é o do aumento do total de famílias expulsas pelo poder privado – normalmente, de forma violenta: foram 2.305, crescimento de 59% em relação a 2017. A maior parte concentra-se na região Norte (36,3% do total), seguida de perto pelo Sudeste (35,6%). O número de famílias despejadas (por ação judicial) cresceu menos, em torno de 6%, para 11.235.

De acordo com o relatório, o número de assassinatos caiu significativamente – de 71, em 2017, para 28. “A CPT analisa que anos eleitorais tendem a ter uma diminuição nesse tipo de violência. Contudo, 2019 já aponta o retorno do aumento dos assassinatos”, informa a entidade, que registrou 10 mortes violentas apenas nos quatro primeiros meses deste ano. Das 28 mortes no ano passado, 15 foram de lideranças – rurais, quilombolas ou indígenas.

Se o número de prisões também diminuiu (de 263 para 197), o registro de pessoas torturadas se multiplicou: de seis casos para 27 anos passado.

Apenas os conflitos especificamente por terra somaram 964, um pouco menos do que no ano anterior (989) e em 2016 (1.079). Mas estes três anos foram os que mais registraram esse tipo de ocorrência no Brasil. em 2008, por exemplo, total foi de 459.

A área em disputa nos conflitos vem aumentando. De 2017 para 2018, o crescimento foi de 6,5%, para 39,425 milhões de hectares, 4,6% da área total do país. Em 2008, a área envolvida, foi de 6,568 milhões.

“Permitam-nos frisar: em um só ano, cerca de 40 milhões de hectares, ou seja, 4,6% da área territorial do país, estava sendo objeto de disputa! Não há a menor dúvida que há uma questão (de reforma) agrária em aberto!”, enfatiza a CPT, lembrando ainda que essa extensão cresce a partir de 2015, “quando se inicia o período de ruptura política”.

Assista reportagem da TVT sobre o mapa da violência no campo:

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