indignação seletiva

‘Se não fosse uma criança indígena, a repercussão seria muito grande’, diz Cimi

Indígenas da região Sul realizam atos e pedem justiça pelo assassinato de bebê da etnia Kaingang. “Enfrentamos um cenário de muito preconceito”, diz membro do Conselho Indígena Missionário

Daniel Caron/ FAS

Em Curitiba, índios se manifestam contra morte de menino em Santa Catarina

São Paulo – A coordenação do Conselho Indígena Missionário na região Sul condenou a pouca repercussão sobre o caso o bebê indígena assassinado em uma rodoviária de Imbituba, cidade do litoral sul de Santa Catarina. Na manhã do último dia 30, um jovem se aproximou da criança no terminal de ônibus, tirou um estilete do bolso, cortou a garganta do bebê de 2 anos, chamado Vitor, e foi embora.

“Se fosse criança não indígena a repercussão seria muito maior, mas como são indígenas parece que fica só uma comoção nos primeiros dias. A gente tenta ajudar divulgando mais”, disse um dos coordenadores da instituição, Jacson Santana. A opinião é a mesma da mãe do menino, Sônia da Silva: “se um indígena cortasse a garganta de uma criança branca o Brasil viria abaixo. Quero a mesma indignação pela morte do meu filho”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.

Durante o verão, vários indígenas da etnia Kaingang, como Vitor e os pais, migram para as cidades do litoral catarinense para tentar vender artesanatos, única fonte de renda dos índios da região. A família do bebê passaria todo o verão no local, dormindo na rodoviária. Sônia estava em Imbituba com o marido, Arcelino Pinto, de 42 anos, e os três filhos (além de Vitor, um de seis anos e outro de 12 anos) desde 26 de dezembro.

“O espaço nas aldeias é tão pequeno que ele não tem espaço para plantar e caçar. A única forma de eles sobreviverem é sair para vender artesanatos”, diz Santana. “Enfrentamos aqui um cenário de muito preconceito. Há uma interferência grande do poder público para retirá-los do espaço público, com a visão de que eles estão sujando a cidade e a rodoviária, que é o local de chagada dos turistas.”

Desde quarta-feira (6), indígenas realizam uma série de manifestações exigindo justiça para o caso de Vitor. O primeiro deles foi às 12h, foi na rodoviária onde ocorreu o assassinato. Na tarde do mesmo dia, cerca de 100 indígenas também protestaram no Centro de Chapecó, local de origem da família. Em Curitiba, índios que estão acolhidos na Casa de Passagem Indígena fizeram uma manifestação na manhã de ontem (8) contra a morte de Vitor.

“O preconceito tem muitas formas. Dizer que os índios estão sujando um local é discriminação. No município de São Miguel do Oeste (SC), um caminhão contratado pela prefeitura retirou a força indígenas que estavam na rodoviária. A jornalista que denunciou isso foi até ameaçada”, conta Santana.

A mãe do bebê relatou ao coordenador substituto da Funai em Chapecó (SC), Clóvis Silva, que o crime ocorreu por volta do meio dia, enquanto Vitor brincava embaixo de uma árvore, perto dela. Um homem se aproximou, simpático e sorridente, passou a mão na cabeça da criança, retirou do bolso um estilete, cortou a garganta do bebê e foi embora.

O ainda suspeito pelo crime, Matheus de Ávila Silveira, de 23 anos, foi detido dois dias depois do assassinato e foi encaminhado para o presídio de Tubarão (SC), depois de confessar o crime. O delegado responsável avalia que ele tem características de um psicopata, pois não demonstrou sentir culpa.

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