Ditadura

Passados 40 anos, assassinos do operário Manoel Fiel Filho continuam impunes

Ao menos sete agentes da repressão estiveram envolvidos na tortura e morte do operário. Ministério Público espera que a Justiça aceite denúncia

reprodução/TVT

Manoel Fiel FIlho foi morto nas dependências do DOI-Codi de São Paulo menos de 24 horas após ser preso

São Paulo – Quarenta anos depois do assassinato do operário Manoel Fiel Filho pela ditadura, até hoje ninguém foi processado. A Justiça não aceitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), apesar de este ter desmontado a farsa de que Manoel havia se suicidado, como foi forjado pelos militares. O procurador Andrey Mendonça recorreu e aguarda decisão do Tribunal Regional Federal (TRF).  Ele acusa sete agentes da repressão pelo assassinato.

Manoel Fiel Filho não era sequer um dirigente sindical relevante, não tinha militância política importante, nem fazia parte de grupos da luta armada. Ele foi preso, torturado e assassinado em 17 de janeiro de 1976, em São Paulo. O inquérito, feito pelos próprios militares, concluiu que ele se estrangulou com as meias.

O suposto crime cometido pelo metalúrgico foi pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ajudar a distribuir o jornal Voz Operária.

Duas pessoas apareceram na fábrica da Metal Arte, na Mooca, se dizendo da prefeitura, e que ele teria que prestar algum esclarecimento. Ele saiu, a chefia autorizou, os trabalhadores continuaram tocando o serviço. Ele foi levado para o DOI-Codi, que ficava na Rua Tutoia e, no dia seguinte, estava morto. Comunicaram à família que ele tinha se suicidado”, relata o jornalista Sérgio Gomes, em entrevista ao repórter Jô Miyagui, para o Seu Jornal, da TVT.

Três meses antes, em outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog fora assassinado pela ditadura, o que causou grande comoção pública, com missa que lotou a Catedral e a Praça da Sé.

Já a morte de Manoel Fiel Filho não teve grande repercussão, mas foi igualmente importante no enfraquecimento da repressão militar. Um dos desdobramentos foi a demissão do comandante do Segundo Exército, conta Sebastião Neto, do Centro de Memória de Santo André: Para o Geisel, foi um desastre ter acontecido isso, quando ele falava em abertura” – nome dado ao processo de liberalização do regime, iniciado em 1974 e considerado finalizado com a promulgação da Constituição de 1988.

Entre 2012 e 2014, a Comissão da Verdade investigou o período da ditadura militar e apontou os responsáveis pelas torturas, desaparecimentos e mortes, mas ainda faltam a reparação e justiça às vítimas e familiares.

A impunidade dos agentes públicos da repressão é lamentada. “O que é estranho e muito ruim é que o MPF montou um processo maravilhoso na sua parte jurídica. Investigaram toda a circunstância, todas as pessoas que estavam na cela, a sequência de acontecimentos, mas a Justiça está rejeitando a abertura do processo contra os assassinos torturadores”, lamenta Neto.

“Se a gente pode ter uma compensação pela morte do Manuel Fiel Filho, é que após a sua morte começou o processo de democratização do país, e não parou nunca mais”, afirma o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em depoimento que consta no documentário Perdão Mister Fiel.


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