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Indígenas acusam fazendeiros de incendiar reserva por vingança

Território da reserva Araribóia, de cerca de 400 mil hectares, no Maranhão, teve mais da metade de sua extensão queimada

Divulgação/Corpo de Bombeiros do Maranhão

Para conter o fogo no território, os indígenas contam com a ajuda de 400 pessoas

São Paulo – No Maranhão, incêndios destroem mais da metade da reserva indígena Arariboia. Em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã de hoje (26), a integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) regional Rosimeire Diniz Santos acusa os latifundiários da região de atear fogo à mata.

“A tristeza é muito grande, muitas coisas foram queimadas, até os bichos. Você percorre por dentro do território e não vê uma folha verde, está tudo seco e cinza. Além da dor de ver tudo destruído, eles (os indígenas) irão passar por muitas dificuldades”, diz.

O território, que possui cerca de 400 mil hectares – 4 mil quilômetros quadrados –  já teve mais de sua metade queimada desde que a atual onda de incêndios começou, há dois meses. “Depois de esperar providências pelo governo, os indígenas tomaram a iniciativa de eles mesmos fazerem a defesa dos limites territoriais e coibir a entrada ilegal de madeireiros. Por isso sofrem as represálias agora”, avalia a ativista.

Rosimeire afirma que algumas medidas foram tomadas, mas não acredita que alguém seja responsabilizado. “O Ibama diz que já acionou a Polícia Federal, mas é difícil alguém ser responsabilizado, porque é comum ocorrer assassinato contra indígenas no Brasil e dificilmente tem uma investigação até o final.”

Ela conta ainda que outro grupo indígena sofre com incêndios nas terras Alto Turiaçu (norte maranhense) e também tem casos de impunidade. “É a maior terra do estado, que também está pegando fogo e não foi ninguém prestar ajuda, os índios estão há 14 dias apagando o fogo. Em abril, um líder indígena foi morto nesse território ao resistir a invasões ilegais. Ninguém foi punido.”

Segundo a integrante do Cimi, os meios de comunicação não atuam a favor dos índios. “É o interesse da grande mídia. O Maranhão é um estado de latifundiários, então não é à toa que você vê terras indígenas sendo destruídas para dar lugar à soja, ao eucalipto, e não garantir o modo de vida indígena.”

Rosimeire diz que muitos indígenas são contra os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, atualmente em disputa em Palmas, capital do estado de Tocantins. “Foi investido muitos recursos neles, enquanto não há investimento para concluir os processos de demarcação de terra indígena, além das questões de política de saúde e educação. Os jogos mascaram uma realidade que está explodindo, como no Mato Grosso do Sul, onde atualmente acontece um genocídio. Está cruel, mas os Jogos dão a imagem de que está tranquilo.”

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