Foco na meta

Haddad diz que não vai repetir Pinheirinho e cutuca Alckmin com ‘tradição democrática’

Prefeito afirma que não vai agir com truculência contra movimentos sociais que têm realizado protestos e ocupações, expõe visão de que não ouvir movimentos é um erro e que atos não mudam políticas

Futura Press/Folhapress

Guilherme Boulos, liderança do MTST, comanda multidão durante ato na Odebrecht, na zona oeste de São Paulo

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), deu hoje (8) uma rara alfinetada no governador Geraldo Alckmin (PSDB). Normalmente afeito a não promover embates públicos com o tucano, o petista buscou se diferenciar do chefe do Executivo estadual quando questionado durante entrevista coletiva sobre o diálogo com movimentos sociais.

Questionado sobre as acusações dos partidos de oposição que seu diálogo com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) teria provocado violência durante ato na última semana na Câmara Municipal e encorajado a entidade a ampliar a realização de manifestações, Haddad afirmou que é de uma “tradição democrática”, na qual essa conversa é normal.

Ele comparou sua atitude com a do governo estadual no episódio do Pinheirinho, em São José dos Campos, quando 9 mil pessoas foram despejadas de um terreno no centro da cidade, em janeiro de 2012. Na ocasião, policiais militares da Rota foram acusados de estuprar pessoas durante a ação de despejo e imagens mostraram uma série de violações de direitos básicos. “Eu acho que é um erro não ouvir a sociedade, não ir ao encontro dos movimentos organizados… Olha o que aconteceu no Pinheirinho. É aquilo que a oposição tem a oferecer para a sociedade? Repetir em São Paulo o que fizeram lá? Aqui o governo é de outra natureza”, disse.

Haddad afirmou que, apesar de legítimas, as manifestações dos movimentos de moradia ocorridas na cidade não alteram a estratégia da prefeitura, que persegue a “todo custo” o cumprimento da meta de construção de 55 mil unidades habitacionais em sua gestão. Segundo o prefeito, 14 mil unidades já estão em construção e outras 19 mil serão alvo de chamamento público até o final de junho. A ideia é que ainda este ano a totalidade da meta seja contratada. “Vamos manter o nosso curso, respeitando as manifestações pacíficas, dialogando com o movimento. Mas nós temos o nosso compromisso, que vai ser buscado a todo custo”, afirmou.

Nesta manhã, militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do MTST fizeram uma série de manifestações na cidade, fechando vias nas cinco regiões e ocupando prédios de Odebrecht e OAS, construtoras apontadas como as maiores beneficiárias das obras da Copa. No último sábado, o MTST ocupou um terreno a três quilômetros do estádio do Corinthians, o Itaquerão, palco da abertura do Mundial. O movimento quer expor para o mundo as “imperfeições do país”, entre elas o problema da moradia.

Leia também:

Em março, Haddad subiu um um carro de som e disse aos militantes do MTST que se manifestavam diante da sede da prefeitura que, se a Câmara demarcasse como Zona de Interesse Social um terreno na zona sul onde está instalada a ocupação Nova Palestina, ele revogaria o decreto que transformava a área de proteção ambiental em parque. A fala transferiu para a casa legislativa, que discute o Plano Diretor da cidade, a pressão do movimento, o que desagradou aos vereadores de PV, PSD, PPS e PSDB, que acusaram o prefeito de ser responsável pelas depredações causadas ao prédio da Câmara no dia 29 passado, quando a votação do Plano Diretor foi adiada.

Depois de ter a reivindicação atendida, com a demarcação de 30% da área como Zeis, o MTST ocupou no sábado o terreno da zona leste, e passou a exigir que esse também fosse demarcado como zona especial. Na segunda-feira (5), o prefeito chegou a dizer que isso seria possível, mas hoje foi mais moderado e afirmou que os vereadores têm outros planos para o local, já apontado no texto do PDE como área industrial. “Os vereadores estão acompanhando o movimento e têm que sempre se pautar em decisões técnicas para não cometer nenhum erro, uma vez que é um plano de longo prazo. É um plano que não vai afetar diretamente essa administração, mas a vida da cidade nos próximos 20 anos”, afirmou.

Leia também

Últimas notícias