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Reintegração de posse em conjunto residencial da Caixa na zona leste de SP é adiada

Major da PM deu mais tempo para moradores saírem espontaneamente. Conjunto do Minha Casa, Minha Vida foi ocupado em julho. Famílias prometem resistir

Raoni Maddalena/RBA

PM deve voltar nessa quarta (19). Prédios iriam atender moradores de áreas de risco

São Paulo – Apesar de ter ordem judicial, a Polícia Militar não realizou hoje (18) a reintegração de posse no conjunto habitacional Caraguatatuba, em Itaquera, na zona leste de São Paulo, como estava programado. Os 940 apartamentos do empreendimento da Caixa Econômica Federal construídos com recursos do Minha Casa, Minha Vida foram ocupados em julho do ano passado, um mês antes de serem entregues oficialmente para outras famílias, provenientes de áreas de risco e com renda de até R$ 1.600. A polícia deve voltar amanhã (19) e planeja encerrar a desocupação até sexta-feira (21).

A ordem judicial foi expedida pela 13ª Vara Cível federal e autorizava o uso da força caso houvesse resistência dos moradores. Durante todo o dia, a comunidade montou guarda e se dizia disposta a “uma guerra” caso fosse forçada a sair dos apartamentos. Barricadas com móveis foram montadas nos acessos às entradas dos cinco blocos do conjunto. De mãos dadas, os moradores formaram cordões humanos no entorno.

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A comunidade organizou um esquema de vigília em revezamento de duas em duas horas, dia e noite. A ideia é não permitir que a polícia entre sem resistência. Muitos dos moradores acreditam que a PM não irá usar força contra eles por se tratar de ano eleitoral.

“Eu pedi para vocês sete dias para vencer essa luta. Vencemos o primeiro. Estamos na vantagem”, afirmou aos moradores o porta-voz da comunidade, Luiz Munhoz, o Mancha.

Durante quase 40 minutos, o ativista e o major Edilson, responsável pela operação, conversaram no meio da rua. Enquanto Mancha argumentava que os moradores tinham o “direito constitucional” de permanecer nos apartamentos porque pagavam impostos, o major contra-argumentava que a situação era ilegal em um “Estado Democrático de Direito”.

Policiais e oficiais de Justiça incentivaram os moradores a buscar respostas junto à prefeitura, que, no entanto, não participou do financiamento do imóvel, cuja reintegração foi pedida pela Caixa e concedida por um juiz federal.

Por volta das 11h circulou a informação de que Fernando Haddad (PT) iria receber uma comissão de dez pessoas na sede da prefeitura, no centro da cidade. A assessoria de comunicação da administração municipal negou que qualquer reunião tenha sido marcada. Minutos depois de partir em direção à prefeitura, no centro da cidade, a comissão decidiu voltar.

Todos os moradores dizem ter inscrição válida para programas municipais e federais, alguns há quase dez anos. A demora, segundo afirmam, está relacionada com a venda ilegal de apartamentos por associações. “Eu mesmo comprei o meu apartamento por R$ 2 mil”, disse Mancha, diante do major e de câmeras de televisão. “E não me arrependo.” “Denunciar vai me dar moradia hoje? Não. O que vai me dar é ficar aqui e lutar”, afirmou.

Ao final da conversa, os moradores agradeceram a paciência dos policiais – que permaneceram no local desde as 6h com a Tropa de Choque e Força Tática –  e pediram que eles mantenham a mesma postura nesta quarta-feira.

Pobres contra pobres

Pessoas que iriam ocupar regularmente o terreno, não tivesse havido a ocupação, foram acompanhar a reintegração. “Eu vim porque minha expectativa é que eu pegue minha chave logo. Estou recebendo R$ 300 da prefeitura, e isso não dá pra alugar lugar nenhum”, reclamou Lucimar Maria dos Santos, que completa 63 anos hoje e queria a reintegração como presente. Ela vivia no Jardim Helena, também na zona leste.

Entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010 a região onde fica o bairro, assim como o Jardim Pantanal, permaneceu alagada por 40 dias seguidos. A vulnerabilidade a que estavam submetidas fez com que essas comunidades fossem indicadas para morar no conjunto. “Na época, a chuva ficou na minha cintura. A gente perdeu tudo. E agora pode perder esse aqui também se eles não saírem”, disse.

Os atuais ocupantes afirmam não ter para onde ir. “O pessoal que disse que seria indicado pra vir para cá não está na rua. Mas se a gente tiver que sair daqui, a maioria vai pra rua. Então, as nossas condições são piores”, observou Silvia Lima, que ocupa um dos apartamentos há seis meses.

Segundo os moradores, o conjunto foi ocupado por pessoas conduzidas por uma mulher chamada Dilma Moura. A ação deu origem ao boca-a-boca e em poucos dias todas as 940 unidades estavam ocupadas. Uma semana depois, Dilma retirou seus seguidores, mas a “porteira já estava aberta”. Os moradores afirmam que não participam de nenhum movimento de moradia ou grupo de sem-teto.

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