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Dependentes da ‘cracolândia’ são acomodados em quartos com ventilador e TV

Em segundo dia da Operação Braços Abertos, da prefeitura de São Paulo, pessoas em situação de rua são encaminhadas a hotéis passam a ter acesso a refeições diárias

Danilo Ramos / RBA

Cadastrados na Braços Abertos conhecem quarto onde ficarão enquanto participarem do programa: ‘cavalo selado no deserto’

São Paulo – Os primeiros removidos da favela formada nas ruas Dino Bueno e Helvétia, na região do centro de São Paulo conhecida por “cracolândia”, já foram encaminhados aos hotéis que participam da chamada Operação Braços Abertos, da prefeitura, que prevê atendimento multidisciplinar aos dependentes químicos, com oferta de atividade remunerada e qualificação profissional, além de tratamento médico contra o vício.

Em um dos hotéis para casais visitados pela reportagem da RBA, há duas camas, TV e ventilador de teto, além de banheiro privativo com chuveiro elétrico. Recém-chegado, Pedro Máximo da Paixão afirmou estar satisfeito com a nova morada – “é quente, mas é melhor que a rua” – e comparou a oportunidade oferecida pelo programa a “encontrar um cavalo selado no deserto”.

Pedro e os demais removidos receberam carteirinhas timbradas com seus nomes e os nomes dos hotéis a que foram encaminhados. Com o documento, eles terão livre acesso aos quartos e receberão café da manhã, almoço e jantar, servidos numa unidade da rede Bom Prato (do governo estadual) do bairro.

Cinco hotéis na própria área da cracolândia serão usados no programa, que colocará à disposição 400 vagas. Eles são privados, mas serão administrados pela ONG União Social Brasil Gigante.

Quem aderir ao programa irá trabalhar na varrição e coleta de materiais recicláveis nas ruas e praças da região, com jornada diária de quatro horas, e receberão R$ 15 por dia, pagos semanalmente. Também passarão duas horas por dia em cursos de qualificação profissional oferecidos pela Secretaria Municipal de Trabalho e Emprego.

Para outro cadastrado no programa, Paulo Teixeira, apesar das boas intenções, ainda é cedo para afirmar que a iniciativa será bem aceita pela comunidade. “Estamos vindo de uma situação de rua e eles não podem colocar regras assim, do nada. Precisa de tempo para ‘aprender o esquema'”, avaliou.

Tranquilidade

A remoção dos barracos e o encaminhamento dos dependentes aos hotéis participantes do programa começou na tarde de ontem (14) e continuou na manhã de hoje. Os primeiros a chegar foram as equipes de limpeza urbana, por volta das 7h, seguidos de soldados da PM e da Guarda Civil Metropolitana, que em momento algum foram chamados a agir.

Os profissionais das áreas de saúde e de assistência social chegaram por volta das 8h e até o fim da manhã a operação transcorria tranquilamente. Antes de os barracos serem desmontados, assistentes sociais se certificavam que os bens que interessavam aos ocupantes haviam sido retirados. Móveis, colchões e até um berço chegaram a ser descartados. No meio da tarde o trabalho de remoção já estava concluída.

Roberto Porto, secretário municipal de Segurança Urbana, reforçou que a Braços Abertos faz uma abordagem diferenciada da questão da exclusão social consequente da dependência química. “O que pretendemos é resgatar primeiro a dignidade das pessoas, para que se sintam aptas a participar do tratamento e da recuperação de sua saúde. Entendemos que tratar o vício depende antes deste resgate.”

Porto, ao lado de José de Fillipi Junior e Luciana Temer, respectivamente secretários de Saúde e de Assistência Social, circularam pelo local e vistoriaram alguns hotéis. “Estamos tentando acomodar as pessoas. Às vezes um tem asma e é preciso ver se o lugar tem umidade, por exemplo. Nem é trabalho de secretário, mas está funcionando”, disse.

Confiança

“Eu estou acreditando no projeto”, afirmou Cícero Barbosa da Silva, dono de um dos cinco hotéis participantes do programa da prefeitura de São Paulo que tenta promover a inclusão de dependentes químicos na região do bairro da Luz. “Estou há 50 anos aqui. Acho que agora, do jeito que eles estão fazendo, vai dar certo.”

Cícero disse que negocia desde outubro com a prefeitura o convênio que reservou os 39 quartos de seu estabelecimento para a operação Braços Abertos. Segundo o empresário, seu hotel ocupava, em média, 90% da capacidade, cobrando R$ 35 por dia pelos quartos de solteiro. A prefeitura pagará menos – R$ 13,50 a diária, mas as despesas de administração ficarão por conta da ONG Brasil Gigante.

Segundo os hoteleiros, cada empreendimento tem contrato de 30 meses pela participação no programa, com multa caso haja rompimento. A prefeitura não confirma os valores, nem o período do contrato.

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