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Candidatos suam camisa por vaga no Conselho Participativo de São Paulo

Postulantes reclamaram da falta de propaganda da prefeitura sobre a eleição, do pouco tempo para divulgar as candidaturas e da distribuição das seções de votação

Conversar com eleitores e acompanhar o local de votação foi estratégia de Juarez Ribeiro (ao centro) <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Distribuição de santinhos foi o caminho mais comum dos candidatos para conquistar uma vaga no conselho <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>O eleitor Gildato Lima fez questão de ir votar pensando em melhorias em saúde e transporte na região <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Na Escola Ministro Colágenas, no distrito do Jabaquara, os eleitores fizeram fila para escolher os representantes <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Candidatos Elisete (Santo Amaro) e Julinho (Pinheiros) esperavam eleitores na Escola Ministro Colágenas, região do aeroporto de Congonhas <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Lista de candidatos de todas as subprefeituras estava fixada nas paredes dos locais de voatação <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>

São Paulo – Estratégia. Essa foi a palavra central na atuação dos candidatos ao Conselho Participativo da capital paulista durante a eleição ocorrida hoje (8). Valeu ajudar os eleitores a encontrar o local de votação, acompanhar os que não sabiam chegar, visitar comunidades pela manhã com santinhos à mão e até ser pego distribuindo os mesmos perto dos pontos de votação e perder um razoável investimento financeiro.

“A gente tem buscado todo mundo que encontra: parentes, vizinhos, amigos. Se for preciso, a gente acompanha até o local de votação”, disse o candidato Juarez Ribeiro, líder comunitário do Parque Cocaia, no extremo sul da cidade. Ele montou um quartel general na associação de moradores do bairro, onde a família se municiava de folhetos com nome, foto e número do candidato. Eles também atenderam a telefonemas de pessoas que queriam saber como e onde votar.

Ribeiro perdeu uma cota de santinhos elaborados às pressas, porque estava perto demais da Escola Municipal Frei Damião, local de votação do bairro. “A gente vem lutando há muito tempo por melhorias na região. O conselho é uma oportunidade de trabalhar mais perto do poder público, levar as reivindicações, fiscalizar”, afirmou Ribeiro, ao justificar a candidatura.

Os conselheiros vão compor equipes que poderão fazer propostas e fiscalizar as ações das subprefeituras. Serão eleitos 1.125 representantes em toda a cidade. Em cada uma das 32 regionais, haverá entre 19 e 51 representantes, em proporção à população do distrito. Os eleitos devem tomar posse em 25 de janeiro para um mandato de dois anos.

Cada subprefeitura vai eleger um membro para participar do Conselho Participativo de Orçamento e Planejamento, junto com os membros dos conselhos setoriais (saúde, educação etc.), que levará as demandas de cada região para a elaboração do orçamento anual do município.

Segundo o diretor da escola Frei Damião, Wanderley Rodrigues Muniz, a eleição estava ocorrendo tranquila e cerca de 200 eleitores haviam votado até as 13h. Professores e outros funcionários, além de guardas civis metropolitanos, faziam as vezes de orientadores, mesários e fiscais. Na região, que faz parte da subprefeitura de Capela do Socorro, serão eleitos 51 conselheiros. Foram 99 candidatos locais.

Gildato Nascimento Lima, 57 anos, fez questão de ir votar, logo após o almoço. Disse esperar que os eleitos lutem por melhorias. “A gente precisa muito de mais uma Unidade Básica de Saúde, de melhorias no transporte. Eu acredito que esses conselhos vão ajudar nisso”, afirmou.

A eleição começou às 8h e se estendeu até as 17h, em um número menor de escolas do que os pleitos convencionais. A movimentação também era bem menor do que normalmente se vê. Isso se deu, em parte, pela pouca divulgação realizada pela prefeitura. Embora tenha investido em inserções em horário nobre na televisão e nas rádios, além das páginas de internet da administração municipal, a gestão Fernando Haddad (PT) só colocou faixas avisando da votação nas escolas na manhã de hoje.

A auxiliar de limpeza Sueli Quitéria da Silva acha uma falta de respeito ocorrer um evento importante sem boa divulgação. “É muito errado isso. Eu moro do lado da escola que está ocorrendo a eleição, mas só hoje eles colocaram a faixa ali. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo”, protestou. Muniz, o diretor da escola, confirmou que os materiais para divulgação do pleito só foram recebidos na manhã de hoje.

Outro problema apontado foi a distância de alguns locais de votação em relação às regiões eleitorais. Segundo o líder do Parque Cocaia, Juarez Ribeiro, moradores do Jardim Gaivotas, no limite do distrito do Grajaú com a represa Billings, foram mandados para votar no Centro Educacional Unificado (CEU) de Parelheiros, a 20 quilômetros de distância.

Outros candidatos também apontaram estes problemas na realização da eleição. Edite Cunha, candidata à subprefeitura da Vila Mariana, acredita que faltou organização na definição dos locais de votação. “Algumas escolas foram alteradas na última hora. Outras não aparecem na listagem da prefeitura”, afirmou.

Com efeito, a RBA deixou de ir ao CEU Alvarenga, na região de Pedreira, zona sul da cidade, porque ele não constava da listagem da prefeitura. Mas houve eleição no local.

A Escola Municipal Ministro Colágenas, onde Edite levou os filhos para votar, fica na rua Alsácia, próximo ao Aeroporto de Congonhas. Ela não estava na lista original da prefeitura e substituiu, de última hora, a Escola Municipal Chiquinha Gonzaga, na rua Pascal, Campo Belo.

Ali votam tanto eleitores de classe média, de Moema e Campo Belo, como moradores das favelas do entorno da avenida Jornalista Roberto Marinho, antiga Água Espraiada. O diretor, Cássio Magela, disse que a participação vinha sendo grande, com pessoas de todos os lugares votando nas 135 seções eleitorais disponíveis no local.

Empolgação

Mesmo com esses problemas, alguns candidatos eram só empolgação, como Elisete Lopes. “Estou tão ansiosa. Nem dormi direito. Hoje, logo depois da missa, andei por muitas comunidades, explicando a eleição, ajudando as pessoas a encontrar onde votar. E mais tarde eu vou acompanhar a apuração na subprefeitura de Santo Amaro, onde ela busca uma vaga de conselheira.

Elisete não é uma pessoa com histórico de liderança comunitária. Moradora de uma casa em um terreno do Departamento de Estradas e Rodagem, que seria leiloado pelo governo de São Paulo sem aviso aos moradores, ela ingressou na ação social para evitar o despejo de 400 famílias na região da avenida Jornalista Roberto Marinho. E acabou gostando.

“Agora quero lutar por melhores condições de moradia para todas as famílias da região, que ainda tem muitas favelas e locais como o que eu moro, que tem muitas casas em um terreno pequeno. As pessoas moram há muitos anos nestes locais e não podem ser expulsas assim”, reclamou.

A ex-moradora da favela do Comando Lucilene Lelles, 29 anos, removida por conta da construção do monotrilho da linha 17-Ouro do Metrô, foi votar esperando que os conselheiros eleitos atuem para garantir a moradia de quem está no auxílio-aluguel. “Vou votar em pessoas que sempre lutaram pela comunidade. A gente acreditou antes e vai acreditar agora”, afirmou.

Na Escola Municipal Duque de Caxias, na região da Liberdade, centro, o movimento era bem menor. Segundo um dos mesários, que pediu para não ser identificado, de mil pessoas que deveriam votar na sala dele, apenas quatro compareceram. Havia 64 seções eleitorais no local. A maior parte dos votantes, segundo ele, era ligada a movimentos de moradia da região central.

Uma das votantes, a corretora de seguros Lina Saraiva, de 46 anos, disse que votar para os conselhos era um ato de revolta. “Nosso bairro não tem política de moradia, sofre com um serviço de saúde deficiente e nós também pagamos impostos. Acredito que os conselhos podem agir para mudar isso, pois são pessoas da região”, afirmou. “E eu vou cobrar”, completou em seguida, quando já ia embora aproveitar o finzinho do domingo.

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