Direitos humanos

Câmara arquiva projeto da ‘cura gay’, mas evangélicos prometem nova ofensiva

Sindicato dos Psicólogos de São Paulo comemora decisão, mas adverte que será necessário trabalho social para reverter debate discriminatório contra comunidade LGBT

Danilo Ramos. Arquivo RBA

Encabeçada pela bancada evangélica, a proposta da cura gay provocou protestos em São Paulo

São Paulo – O plenário da Câmara aprovou hoje (2) o arquivamento do Projeto de Decreto Legislativo 234, de 2011, conhecido como “cura gay”, que provocou protestos da comunidade LGBT e de grupos em defesa dos direitos humanos. A rejeição foi aprovada depois que o próprio autor da proposta, João Campos (PSDB-GO), pediu para retirá-la de pauta por conta da repercussão negativa, dentro, inclusive, do próprio partido dele.

Mas o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), afirmou em tom de ameaça que a bancada evangélica reapresentará na próxima legislatura a ideia de revogar resolução do Conselho Federal de Psicologia que impede os profissionais da área de participar de terapias que visem a alterar a identidade sexual de uma pessoa. Segundo o regimento da Casa, um texto rejeitado pode ser reapresentado no começo do próximo ano por iniciativa de qualquer parlamentar.

Depois da aprovação pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, presidida por Feliciano, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), trabalhava para acelerar a tramitação e rejeitar a proposta em plenário. Agora, a retirada de pauta depende de resolução da Mesa Diretora, que vai consultar o regimento da Casa. “Se ele não for retirado, nós vamos derrubá-lo hoje ou amanhã”, disse o líder do PT, deputado José Guimarães (CE).

A decisão foi comemorada pelo presidente do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo, Rogério Giannini, que atribui a decisão parlamentar à mobilização da sociedade. “O projeto de “cura gay” acabava, pelo nome, escondendo um fator importante que é o envolvimento da psicologia  nisso”, afirma. “Fundamentalmente, é trazer para o campo da doença uma característica humana, presente historicamente na sociedade, construída e desconstruída em vários momentos da história. Quando a sociedade avança na concepção do que é a expressão do sujeito na sociedade, trazer esse debate de uma maneira atravessada, como doença, como pecado, como erro, é ruim.”

Feliciano celebrou a decisão de Campos de retirar o projeto de pauta, afirmando que o fato de não ter sido rejeitado abre espaço para que seja apreciado novamente na próxima legislatura. “Neste momento, o projeto iria ser usado como uma cortina de fumaça por todas as manifestações que estão ocorrendo no País. Acho que não era viável deixar que isso acontecesse”, disse o deputado. “Se ele voltar na próxima legislatura, vai voltar com força total. E deve voltar com a bancada evangélica dobrada. Aí nós vamos ter mais tempo para argumentar sobre ele, porque esse projeto ajuda as pessoas. O projeto dá à pessoa que está sofrendo a oportunidade de buscar ajuda, e do profissional, de ajudá-lo. Hoje, do jeito que está, a pessoa não pode ser ajudada”, afirmou.

 

Para Giannini, reside aí a grande herança negativa trazida pelo debate em torno da “cura gay” e de outras propostas da bancada religiosa. “É uma marca muito negativa. Se a gente considerar que o Brasil não apenas discrimina, como mata homossexuais, trazer o debate dessa maneira trouxe um malefício que fica, apesar da retirada do projeto. A gente precisa recuperar agora a pauta positiva. O mínimo é a tolerância. O melhor é a valorização da diversidade”, criticou. “É fundamental que a gente discuta a saúde pública. Não é qualquer psicologia. É uma psicologia que respeita os direitos humanos.”

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