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Ato contra preço da passagem elege Haddad como alvo preferencial

'Só vai haver diálogo se a gente mostrar a força que tem', afirma integrante de movimento. Manifestantes fecharam Marginal em novo protesto, que voltou a ter bombas de gás jogadas pela PM

Manifestantes prometem novo ato no dia 11 contra tarifas, que foram de R$ 3 para R$ 3,20 <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Vias importantes da cidade foram bloqueadas <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Cerca de 5 mil pessoas participaram, segundo a PM <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Reivindicação é diminuição da tarifa <span></span>Ato teve forte aparato policial <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Bombas foram usadas. Mas não houve confronto. <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Anarquistas foram impedidos de entrar na estação Faria Lima do Metrô <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>

São Paulo – Cerca de cinco mil pessoas, segundo a Polícia Militar, e duas mil, segundo os organizadores, realizaram ontem (7) a segunda manifestação do ano contra o aumento das passagens de ônibus, metrô e trem na cidade de São Paulo e região metropolitana. O ato durou três horas e interditou vias importantes da cidade, como a Avenida Faria Lima e a Marginal do rio Pinheiros, na zona oeste, na tentativa de cumprir uma das principais promessas do Movimento Passe Livre (MPL): “se a passagem não baixar, a cidade vai parar”, diz o lema do movimento.

“Só vai haver diálogo se a gente mostrar a força que tem. Essa força é a mobilização, o povo”, afirmou Matheus Preis, de 19 anos, estudante de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo e membro do MPL.

Desde o começo do mês a tarifa de ônibus foi reajustada pelo prefeito Fernando Haddad (PT), passando de  R$ 3 para R$ 3,20. O percentual de aumento foi de 6,7%, bem abaixo da inflação acumulada de 14,4% desde o último reajuste, no começo de 2011. As tarifas do Metrô e dos trens da CPTM também passaram a R$ 3,20.

“As empresas de ônibus são muito poderosas, os donos financiam as campanhas. Eles não vão baixar para ser diplomáticos, para ser bons ou maus. Então a gente tem que mostrar que tem força”, argumenta Marcelo Hotimsky, também do MPL e aluno de Filosofia da USP.

Apesar de o Metrô ser de responsabilidade do governo do estado, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi poupado das palavras de ordem do movimento. Já o nome de Haddad esteve sempre seguido ou precedido de expressões pouco lisonjeiras.

Os manifestantes se concentraram a partir das 17h no Largo da Batata, em Pinheiros, e caminharam pela Faria Lima no sentido zona sul, entraram na Avenida Rebouças e seguiram para a Marginal. Durante o percurso, panfletos foram entregues a motoristas de automóveis e ônibus. Alguns passageiros deram declarações de apoio ao ato. “Tem que protestar mesmo. A passagem é muito cara e o ônibus, lotado”, disse uma senhora pelo vidro de um coletivo. Outros demonstravam irritação com o trânsito. Comerciantes fecharam as portas com medo de que suas lojas fossem invadidas e depredadas. Apesar da forte presença policial, não houve confronto.

Ainda assim, bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas quando os manifestantes entraram na Marginal do Pinheiros. Outras bombas foram lançadas em ruas transversais. O Capitão Mário, um dos comandantes presentes no ato, disse não saber qual o motivo para o uso das armas que causam mal-estar e ardência nas vias respiratórias e olhos, mas afirmou que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) deu ordem para que a Marginal não fosse fechada. “Provavelmente por isso o gás foi usado.”

Apesar disso, não houve revide. Na véspera, pelo menos 15 pessoas foram presas depois que manifestantes depredaram lojas e estações do metrô durante primeiro ato, que ocorreu pelas ruas do centro, Avenida Paulista e 23 de Maio.

“O que deu ao protesto o caráter que ele teve ontem foi a repressão da polícia. Quando a gente entrou na 23 de Maio, os policiais começaram a jogar bombas de gás, efeito moral, balas de borracha”, relatou Hotimsky. “A partir do momento que a polícia reprime os manifestantes, é completamente incontrolável o que as pessoas vão fazer. E com toda razão”, avalia.

Alguns manifestantes autodeclarados anarquistas tentaram pelo menos duas vezes fazer barricadas com fogo, mas foram impedidos por outros membros do movimento.

Depois do término do ato, às 20h, um grupo de anarquistas seguiu em grupo para a estação Faria Lima do Metrô. Alguns foram impedidos na entrada por seguranças. Durante alguns minutos, eles tentaram convencer os funcionários do consórcio que administra a linha que tinham direito de acessar a estação. Foi preciso a intermediação da polícia para que cidadãos que não estavam participando do ato pudessem entrar.

Um grupo de manifestantes que conseguiu passar quebrou um dos bloqueios de vidro das catracas e Edivaldo Santana dos Santos Júnior, de 20 anos, foi detido por seguranças da estação. Ele já estava na plataforma quando foi retirado à força. Outros jovens tentaram ajudá-lo e foram agredidos. Jones de Oliveira, de 20 anos, tinha marcas no braço. Santos Júnior, que chorava bastante, garantiu que não participou da depredação e que vinha do trabalho. Ele contou que estava atrás do grupo que quebrou o bloqueio e filmava a situação.

O gestor de atendimento José Luiz Bastos confirmou que dados da identidade do rapaz, inclusive o número do Registro Geral (RG), foram anotados. Segundo ele, as imagens da depredação serão analisadas e comparadas com as informações de Santos Júnior. Se a suspeita for confirmada, ele será apontado para a Polícia Civil. “O certo seria levar ele para a delegacia”, admite. “Mas íamos perder muito tempo, perder uma viatura aqui. Então achamos melhor deixá-lo ir.”

Depois de ser liberado, Santos se queixou do tratamento que recebeu. “Me acusaram e não tenho nada a ver. Pegaram meu RG e eles nem são da polícia”, disse.

Um pequeno grupo, com cerca de 200 pessoas, resolveu continuar o ato e seguiu para a avenida Paulista a pé. Por volta das 22h30 a manifestação foi finalmente encerrada, no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Av. Paulista.

Na próxima terça-feira (11), o MPL promete fazer outro ato. A concentração está marcada para as 17 horas na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista. “Será ainda maior”, afirmaram os organizadores, que avaliaram o ato de hoje como bem-sucedido.

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