Comissão da Verdade no Rio é marcada por forte cobrança para punir torturadores

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) teve, na segunda-feira (13), a sua primeira agenda oficial no Rio de Janeiro. A audiência pública realizada em parceria com a Ordem dos Advogados […]

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) teve, na segunda-feira (13), a sua primeira agenda oficial no Rio de Janeiro. A audiência pública realizada em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) foi marcada por intensas cobranças por punição aos torturadores e assassinos da Ditadura Militar.

No período da manhã, os membros da comissão responderam os questionamentos da sociedade civil. O ministro Gilson Dipp, coordenador da CNV, destacou que o foco do grupo é trazer à tona informações sigilosas. Para outro membro da comissão, Paulo Sérgio Pinheiro, não adianta ficar discutindo os poderes da Comissão. Para ele, deve se dar valor ao trabalho que pode ser realizado.

“A gente tem que mostrar o papel exato da comissão: não é um tribunal, não é o Ministério Público, não tem papel de corte. Achamos que é um desperdício ficar só criticando a comissão porque ela não vai julgar, é perda de tempo e o tempo vai passar. O prazo não é prorrogável, então temos que terminar até 2014″, destaca ele.

À tarde, os historiadores Maria Celina D’Araújo e Carlos Fico enfatizaram que o golpe contou com intensa participação de setores da sociedade – como políticos, Igreja Católica e Imprensa, assim como demonstraram as diversas divisões político-ideológicas dentro das Forças Armadas, que duelavam entre si antes mesmo antes da tomada do poder.

A mesa mais polêmica, no entanto, ficou para a parte final dos trabalhos. O teólogo Leonardo Boff pediu que a sociedade pressione o Estado para que, com a verdade apurada, a Justiça possa ser feita. “Para os que cometeram altos crimes contra a dignidade humana não pode haver anistia”, defendeu.

Para Boff, a Comissão da Verdade brasileira está inserida dentro da lógica do jeitinho, como descrita por Roberto Damatta. “Não é possível falar de verdade sem falar de Justiça”, afirmou. Por isso, acredita que o processo histórico brasileiro caminhará aos poucos e poderá chegar ao dia em que os responsáveis pelo que chamou de “terrorismo de Estado” sejam punidos.

Outra preocupação demonstrada pelo teólogo é com as entidades de formação dos jovens que entram nas Forças Armadas. Ele demonstrou perplexidade com as músicas cantadas por recrutas na Tijuca, denunciadas recentemente pela imprensa. Boff pede que o governo federal se preocupe com que é ensinado nas escolas que formam praças e oficiais.

Memória em locais de tortura

A Comissão Nacional da Verdade pediu que o governo do Rio de Janeiro tombe prédios e crie memoriais em locais usados pelo regime militar como centros de tortura de presos políticos, a exemplo do Museu da Resistência, criado em São Paulo na antiga sede do Dops (Departamento de Ordem e Política Social), em 2009.

A reivindicação da criação dos centros culturais e dos tombamentos é do Coletivo Memória Verdade e Justiça, formado por cerca de 20 organizações, dentre as quais a Seccional RJ da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

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