‘Negros e pardos têm se assumido mais’, afirma socióloga

Aumento de autodeclarações pode ser resultado de política de cotas e mais visibilidade em meios de comunicação, mas afrodescentes ainda ganham menos

São Paulo – Entre 2000 e 2010 o número de autodeclarados pardos cresceu 0,27% e de negros 0,36%, o equivalente a quase 25,1 milhões de pessoas. Política de cotas e maior a aparição em comercias e programas de TV de pessoas com a mesma característica étnica podem ter influenciado o aumento da autodeclaração como afrodescendente no último Censo.

“Negros e pardos têm se assumido mais”, afirma a socióloga Teresinha Bernardo, coordenadora do núcleo de estudos Relações Raciais, Memória, Identidade e Imaginário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente, a professora desenvolve pesquisa com crianças e adolescentes da rede pública estadual e nota a diferença. “Elas se auto-identificam negras sem nenhum problema. Isso dificilmente aconteceria 10 anos atrás”, acredita. 

“Nos últimos anos houve uma ação muito intensa do movimento negro e toda essa discussão recente sobre as cotas no STF. Os meios de comunicação também têm se tornado mais tolerantes e apresentando propagandas com homens e crianças negras o que é muito positivo”, elenca.

Para Teresinha esse aumento da presença dos negros nos meios de comunicação também pode ter contribuído para a diminuição dos que não respondiam a declaração de cor. No Censo 2000, eles eram quase 1,207 milhão, em 2010 ficaram na casa dos 36 mil. “No ano 2000 o IBGE precisou fazer festa no Pelourinho em Salvador para as pessoas se declararam negras. Quando você é alvo do preconceito, do racismo sua autoestima cai.”

Ascensão social

Apesar de ser o grupo cuja presença aumentou de maneira mais expressiva na classe média, os negros e pardos ainda têm rendimentos menores que os brancos. A renda domiciliar per capita da população que se autodeclara branca é 2,1 vezes maior do que a da que se declara negra e 2,2 vezes das que se declaram pardas, segundo os dados do Censo 2010. “A ascensão do negro é mais difícil porque o racismo é grande e cria um obstáculo. Quando um negro e um branco com as mesmas condições se apresentam para qualquer trabalho, o branco sempre é o escolhido”, afirma. 

 

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