Sem apoio de companheiros, mulheres deixam de investir na vida profissional
Falta aos homens entender a necessidade de compartilhar as responsabilidades domésticas (Foto: Marcelo Justo/Folhapress) São Paulo – A falta de contrapartida masculina na divisão do trabalho doméstico impede que as […]
Publicado 02/03/2011 - 15h18
Falta aos homens entender a necessidade de compartilhar as responsabilidades domésticas (Foto: Marcelo Justo/Folhapress)
São Paulo – A falta de contrapartida masculina na divisão do trabalho doméstico impede que as mulheres invistam em formação ou na autonomia profissional. A avaliação é do coordenador da pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, Gustavo Venturi. O estudo foi realizado pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc) em 2010.
“Um dado que chamou a atenção é que embora haja vários indicadores positivos não aumentou a porcentagem de mulheres que dizem que se pudessem decidir livremente escolheriam investir mais na construção de sua autonomia pelos estudos e trabalho antes de constituir uma família”, afirma o cientista político e professor da Universidade de São Paulo (USP). O que significa que a dedicação à casa e à família acaba acontecendo em detrimento à autonomia profissional feminina.
Venturi analisa que a divisão de trabalho não ocorreu como se imaginava na pesquisa anterior, realizada em 2001 pela Fundação. “A saída da mulher para o mundo público e do trabalho em busca de autonomia acarretou um peso grande que é a dupla jornada”, contextualiza o pesquisador. “Os homens não têm aliviado esse peso para as mulheres em relações conjugais”, complementa.
A dificuldade de conciliar os aspectos profissionais com a vida pessoal “está fazendo as mulheres pensarem duas vezes em avançar muito fora de casa”, acredita o cientista político. Mas de forma geral, a pesquisa encontrou uma mulher em busca de sua autonomia, destaca Venturi.
A prevalência da mulher no espaço doméstico também explicaria a incidência maior da ideia de que “para educar bem os filhos, às vezes, é preciso dar uns tapas neles” entre mulheres. Cerca de 75% das mulheres se manifestaram nesse sentido, ante 59% dos homens.
“Nós temos ainda uma herança patriarcal milenar, bastante criticada, que gradualmente se transforma”, aponta. “Mas é um processo lento de transformação”, admite Venturi.
Até pouco tempo constava no Código Civil a figura do pátrio poder, que diferenciava o poder de homens e mulheres na criação dos filhos, lembra o pesquisador.
A própria origem da palavra família, derivada do latim “famulus”, está relacionada ao conjunto de escravos sobre o qual o cidadão romano tinha pátrio poder. Além dos escravos, faziam parte desse conceito mulheres e filhos, diz Venturi.
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