Associação aponta que interdição de presídio no ES não resolve problema

Presidente de entidade duvida que governo estadual vá cumprir determinação da Justiça de desocupar a Casa de Custódia de Viana em 15 dias

A Casa de Custódia de Viana, no Espírito Santo, tem histórico de homicídios e mutilações (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

A presidente da Associação de Mães e Familiares de Vítimas da Violência no Espírito Santo (Amafase), Maria das Graças Nascimento Nacort, considera que a decisão da Justiça capixaba de proibir a entrada de novos presos na Casa de Custódia de Viana deveria ter ocorrido há muito tempo. E mostra ceticismo em relação ao cumprimento da medida pelo governo de Espírito Santo: “o estado aqui é um terror. Só vendo para saber a realidade”.

O secretário de Justiça do Espírito Santo, Ângelo Roncalli, afirmou que não tem para onde mandar os 1.200 internos da unidade, que deveria ser desocupada em duas semanas. Ele agora aposta na construção de novas unidades sem licitação para transferir os detentos, o que ocorreria em seis meses. O ceticismo de Maria das Graças Nacort é justificado: o secretário é o mesmo que, há três anos, ao comentar o relatório que afirmava que a Casa de Custódia não oferecia condições nem para porcos criados em condições primitivas, afirmou que as coisas não poderiam ser resolvidas da noite para o dia.

A solução dada foi a instalação de contêineres que hoje, no presídio de Novo Horizonte, na região metropolitana de Vitória, abrigam presos que ficaram cegos depois de serem baleados. Segundo Maria Nacort, há também quem tenha sido atingido na região abdominal e nas mãos. Em Cariacica, menores estão internados com adultos, todos em condições desumanas.

A presidente da associação, uma das que deu origem à atual onda de denúncias, lembra que a situação não é de hoje e que cansou de atender a pedidos de mães em busca de ajuda para retirar o corpo do filho, detento, do Instituto Médico Legal.

Dias atípicos

Maria das Graças Nacort está vivendo dias agitados como os de sempre, mas atípicos. Nesta quarta-feira, a Justiça de Espírito Santo inicia o julgamento de dois dos quatro assassinos do filho dela. Todos policiais que, a bordo de uma viatura, dispararam mais de 20 vezes contra a vítima em pleno centro de Vitória no longínquo 20 de junho de 1999. Depois de muita insistência, o caso foi levado adiante, mas não sem um preço: “sou uma mulher marcada para morrer. Quando é crime de policial, a situação é muito complicada. Cinco promotores se recusaram a ter envolvimento com o júri”, lamenta a presidente da associação.

 

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