Ultraje a Rigor e Raimundos trocam sucessos no ‘embate do século’

(©reprodução) Esse é o subtítulo do álbum “Ultraje a Rigor Vs. Raimundos”, que reúne duas das mais importantes bandas do rock brasileiro. Uma dos anos 80 e outra da década […]

(©reprodução)

Esse é o subtítulo do álbum “Ultraje a Rigor Vs. Raimundos”, que reúne duas das mais importantes bandas do rock brasileiro. Uma dos anos 80 e outra da década de 90. Uma de São Paulo e a outra de Brasília. Porém, o que parece uma grande ideia no papel: uma banda interpretando algumas das canções de maior sucesso da outra; na prática, não se mostra tão incrível assim. Pesam os fatos de que nenhuma das duas está com a sua melhor formação e que os arranjos, na maioria, são bastante parecidos com os originais. Mesmo assim, o álbum merece ser ouvido pela garra dos (já veteranos) roqueiros e pela eficácia com que recuperam e transformam alguns clássicos.

Apenas com Roger Moreira da formação original, o Ultraje a Rigor manda ver em “Puteiro em João Pessoa”, “O Pão da Minha Prima” e “Eu Quero Ver o Oco”, que registram toda a potência de Mingau (baixo e coro), Bacalhau (bateria) e Marcos Keline (guitarra e coro).  As melhores gravações são de “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”, que ganha roupagem surf music mais perceptível que a original; “Me Lambe”, com interpretação muito divertida de Roger, reforçada por instrumental competente; o punk rock “Papeau Nuky Doe”; e “Selim”, que vira bolero bem ao estilão dos anos 70, para acentuar o contraste com a letra de forte conotação sexual.

Os Raimundos, que mantêm Digão (guitarra e voz) e Canisso (baixo e voz) da formação original, parecem muito bem adequados para o repertório do Ultraje a Rigor. Aliás, a sonoridade da banda soa mais madura com Marquim (guitarra e backings) e Caio (batera). Basta ouvir a potência destilada em “Rebelde Sem Causa”, “Nós Vamos Invadir Sua Praia” (com a inclusão de “uns baseados” na letra – é verdade que se sente falta do ilustre coro original) e “Ciúme”, talvez a melhor gravação do CD. “Mim Quer Tocar” ganha roupagem mais moderna; “Inútil” retorna muito mais pesada, com boa dose metal e cara de Metallica e Rush; “Eu Gosto de Mulher” está bem mais acelerada; e “Nada a Declarar”, vira um dilacerante punk rock ao estilo californiano.

O interessante é que há canções de cada um dos três primeiros álbuns dos Raimundos. Do primeiro e homônimo, “Puteiro em João Pessoa” e “Selim”. Do segundo, “Lavô Tá Novo”, aparecem “O Pão da Minha Prima”, “Eu Quero Ver o Oco” e “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”. O terceiro é representado por “Papeau Nuky Doe”. A exceção é “Me Lambe”, do quinto álbum, “Só no Forevis”. 

Já do Ultraje a Rigor, há cinco músicas do primeiro álbum, “Nós Vamos Invadir Sua Praia” – a faixa-título, “Rebelde Sem Causa”, “Ciúme”, “Mim Quer Tocar” e “Inútil”. No mais, “Eu Gosto de Mulher”, do segundo, “Sexo!!”; e “Nada a Declarar”, da coletânea “18 anos sem tirar!”, de 1999.

“Ultraje a Rigor VS. Raimundos”, portanto, deve cair no gosto dos fãs do rock nacional, pois traz o que há de melhor no repertório das duas bandas, com algumas ótimas interpretações. No entanto, se no papel a ideia de uma banda interpretar o repertório da outra parece extremamente criativa, na prática pode representar justamente um pouco de falta de criatividade de quem “não tem o que dizer, nem mais o que fazer”, como indicam os versos da canção que fecha o disco. Afinal, as duas bandas não lançam material inédito há 10 anos.

[email protected]