Tim Burton volta moralista e pouco criativo em ‘Sombras da Noite’

Johnny Depp volta a encarar um personagem sombrio, em novo filme de Tim Burton; muitos efeitos não salvam moralismo do enredo (©Divulgação) Famoso por impor uma marca estética audiovisual em […]

Johnny Depp volta a encarar um personagem sombrio, em novo filme de Tim Burton; muitos efeitos não salvam moralismo do enredo (©Divulgação)

Famoso por impor uma marca estética audiovisual em seus filmes e por trabalhar, de modo bem humorado, com temas ligados ao sobrenatural, o diretor Tim Burton parece se tornar armadilha da própria fórmula em “Sombras da Noite”, baseado numa série cultuada da televisão e previsto para chegar aos cinemas brasileiros na sexta-feira (22).

Ao retomar aspectos de produções anteriores, o cineasta norte-americano se perde no enredo extremamente moralista que indica que, mais chavão do que nunca, só o amor é capaz de salvar as pessoas. Já a vingança, coitada, é o pior dos sentimentos e quem a possuir sempre será castigado. 

O protagonista preferido de Tim Burton, Johnny Depp, está de volta, agora como Barnabas Collins, um garoto que nasce em Liverpool, em 1750, e se muda com a família para uma pequena cidade dos Estados Unidos. Ali ele se envolve com a empregada Angelique Bouchard (Eva Green), mas acaba abandonando-a, quando esta lhe exige juras de amor. Revoltada, ela se vinga matando os pais dele e, em seguida, hipnotizando e conseguindo fazer com que a mulher por quem se apaixonou, Josette DuPres (Bella Heathcote), se jogue do penhasco. Revoltado, ele faz o mesmo, mas o castigo é ainda maior. Torna-se vampiro e é acorrentado e enterrado vivo.

Duzentos anos depois, em 1972, ele é descoberto e retorna à vida, numa das mais divertidas cenas do filme, quando avista o símbolo do McDonald’s e o associa a Mefistófeles. Faz lembrar as ótimas gagues do filme “Os Fantasmas Se Divertem”, dirigido por Tim Burton, em 1988, cujos personagens parecem ter inspirado a criação dos parentes distantes que Barnabas encontra habitando a mansão Colinwood, na cidade litorânea de Collinsport. São eles: a matriarca Elizabeth Collins Stoddard (Michelle Pfeiffer), a adolescente revoltada, roqueira e hippie Carolyn Studdard (Chloe Grace Moretz), o garotinho órfão e incompreendido Willie Loomis (Jackie Earle Haley) e o pai mulherengo e interesseiro Roger Collins (Johnny Lee Miller). Porém, todos são mal desenvolvidos e se tornam caricaturas grotescas, completamente diferentes dos personagens do filme mencionado.

A esposa de Tim Burton, Helena Bonham Carter, excelente atriz, que brilhou em filmes como “Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da RuaFleet”, de 2007, também não convence como a psicóloga Dra. Julia Hoffman, que é infeliz com seu envelhecimento e resolve tentar roubar o sangue de Barnabas. Já este reencontra a amada, agora na persona Victoria Winters (interpretada pela mesma Bella Heathcote), que chega à mansão para cuidar das crianças.

Como em boa parte da obra de Tim Burton, os únicos aspectos que merecem destaque, mas não salvam o filme, são a direção de arte, de Rick Heinrichs, os figurinos, de Colleen Atwood, e a trilha musical, de Danny Elfman. A maquiagem a que Johnny Depp é submetido é um show à parte: ajuda a realçar o aspecto moribundo e fantasmagórico do personagem. Difícil é acreditar que ele consiga conquistar mais da metade do elenco feminino.

“Sombras da Noite” é muito efeito para pouco conteúdo, que beira ao moralismo extremo, o que tem se transformado numa marca dos filmes de Tim Burton. O cineasta norte-americano já foi muito mais criativo e inovador. Porém, dessa vez, nem mesmo algumas boas gagues parecem convencer e divertir de fato o espectador. Mas não duvide que o filme possa ser capaz de se tornar um dos grandes sucessos da temporada.

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