Sustentabilidade nos Jogos Olímpicos é tema de debate no Rio

O Rio de sedia até amanhã o encontro mundial da União Mundial das Cidades Olímpicas (UMVO, na sigla em francês). Cidades que já sediaram Jogos Olímpicos, que vão sediar ou […]

O Rio de sedia até amanhã o encontro mundial da União Mundial das Cidades Olímpicas (UMVO, na sigla em francês). Cidades que já sediaram Jogos Olímpicos, que vão sediar ou pretendem participar do processo de seleção do Comitê Olímpico Internacional estão reunidas para debater como a presença dos jogos pode ser usada para melhorar o ambiente urbano.

O tema central dos debates de hoje foi a sustentabilidade no processo olímpico. Na sua acepção mais básica, sustentabilidade envolve três pilares: o ambiental, o social e o econômico. O balanço entre os três – e a prioridade a cada um deles – é que torna as ações nesse sentido complicadas.

“É mais interessante colocar a sustentabilidade como caminho e não como ponto de chegada”, disse Tania Braga, especialista em sustentabilidade da Academia Internacional de Ciência e Tecnologia Esportivas (Aists, na sigla em inglês). Para ela, o legado sustentável é um comprometimento fundamental no movimento olímpico, goste-se disso ou não.

Para Sergio Besserman, Presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e Governança Metropolitana, concorda com essa análise. “A sustentabilidade é o maior desafio do nosso tempo e o Rio de Janeiro tem tudo a ver com isso. É uma cidade que tem inúmeros ativos naturais, como as florestas da Pedra Branca e da Tijuca e as baías de Guanabara e Sepetiba, inseridas em uma região metropolitana de 12 milhões de pessoas”, diz. Ele elencou as ações relacionadas à sustentabilidade nos Jogos Olímpicos na cidade, como os corredores de ônibus sem emissão de carbono, a construção de novas ciclovias e aumento nas áreas verdes na cidade. 

Conversei rapidamente com Besserman ao final do evento. 

DU – Tenho a impressão de que no Brasil, a discussão sobre sustentabilidade fica muito centrada na questão ambiental, enquanto os porblemas sociais são deixados de lado. Qual a sua opinião sobre isso?

Besserman – Sim e não. Também há quem tente evitar a questão das discussões ambientais colocando em foco o combate à pobreza. Diria até que a parte da opiniõ pública que está atenta a essa discussão compreende bem que não se trata apenas de salvar a Amazônia pelo importância ambiental que ela tem, mas também para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Sua fala hoje foi bastante focada em meio ambiente, enquanto o problema das pessoas que estão deixando suas casas por conta das obras que estão sendo feitas não foi abordado.

A legislação brasileira protege bastante o direito dessas pessoas. É um número bastante pequeno se você considerar que é uma cidade já construída. E estão tendo seus direitos de indenização bastante respeitados.

Dados da ONU (na verdade informações da relatora da ONU para o Direito à Moradia, Raquel Rolnik) mostram que esses direitos não estão sendo respeitados.

Se esses dados tivessem algum fundamento não sairiam da imprensa carioca, que é muito crítica e democrática. O que ocorre é que tivemos por muitos anos um tabu. Como o estado brasileiro se omitiu durante décadas em relação à habitação, a população encontrou sua forma de morar, e o fez através de ocupações irregulares em diversos locais, alguns deles vulneráveis. Com o fim da ditadura, o direito de posse tornou-se muito forte no Brasil e há um respeito em relação a isso. Tornou-se muito difícil para o Rio de Janeiro fazer o que é uma necessidade, que é remover as pessoas de onde houver vulnerabilidade e de onde houver necessidade para valoriuzação de algum ativo que gere desenvolvimento social da cidade. O que é necessário é que essas pessoas tenham de forma transparente todos os seus direitos assegurados.

Nessa área de sustentabilidade há alguma preocupação com a participação popular?

É uma oportunidade única, porque o RJ sabe fazer isso, mas há muito pouca coisa feita nessa direção. Tempo tempo ainda, mas ações ainda não começaram.

Vão começar?

Se depender da sua pergunta e da minha resposta, sim.

Acredito que as respostas de Besserman sobre os problemas de moradia associados aos Jogos demonstrem bem qual a postura da cidade em relação à população removida e à participação popular nos processos decisórios de maneira geral. A negação dos problemas causados às comunidades atingidas pelas obras chega a assustar. A retórica, no entanto, é favorável ao engajamento dos cidadãos. Infelizmente, me parece clara qual das duas posturas prevalecerá.

 

A cobertura dos debates do encontro da União Mundial das Cidades Olímpicas continua amanhã.

 

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