‘Shame’ mostra esvaziamento existencial por meio do sexo

O ator Michael Fassbender, em cena de ‘Shame’: vazio existencial em ambiente opressor (Foto: ©divulgação) O ator Michael Fassbender caminha nu pelos cômodos de um apartamento enquanto escuta a voz […]

O ator Michael Fassbender, em cena de ‘Shame’: vazio existencial em ambiente opressor (Foto: ©divulgação)

O ator Michael Fassbender caminha nu pelos cômodos de um apartamento enquanto escuta a voz de Carey Mulligan na secretária eletrônica chamar por ele. Essa é a primeira cena do filme “Shame”, segundo filme dirigido pelo inglês Steve McQueen e que, apesar de ter sido lançado mundialmente no final do ano passado, só chega agora, nesta sexta-feira (2), aos cinemas brasileiros.

Considerado um dos maiores símbolos sexuais da atualidade na Europa, o que é reforçado ainda mais pelo filme, Michael Fassbender interpreta Brandon, um rapaz cobiçado pelas mulheres, que não consegue se envolver com ninguém e tem uma série de experiências tórridas e efêmeras durante as noites de Nova York, enquanto mantém um trabalho estável numa agência de publicidade. Ou seja, é o típico modelo yuppie e esvaziado existencialmente. Essa interpretação rendeu ao ator alemão, criado na Irlanda, um prêmio no Festival de Veneza, na Itália.

Brandon está viciado em sexo e não vê outro sentido para sua vida, cujo esvaziamento existencial é marcado dramaticamente pela utilização de muitos momentos de silêncio. O rapaz tem o poder de atrair e seduzir as mulheres, transformando essa numa atividade perigosa, deprimente e, ao longo do filme, cada vez mais dolorosa. A situação fica mais difícil quando a irmã caçula Sissy (a sempre incrível Carey Mulligan, que prova aqui também ser boa cantora, numa imperdível interpretação de “New York, New York”) resolve se instalar no apartamento dele e revelar suas tendências depressivas e suicidas.

A relação de Brandon e Sissy vai, aos poucos, tornando-se cada vez mais conflitante, uma vez que um não sabe lidar com as individualidades do outro. Brandon não aceita o fato de que a irmã possa ter transado com seu chefe e agora o estar perseguindo. Algo que ele faz questão de excluir de sua rotina. Já ela é agredida no momento em que flagra o irmão se masturbando no banheiro. Tudo levará para um desfecho previsível, mas nem por isso menos intenso.

A aparente falta de sentido na vida tanto de Brandon, como de Sissy, é o que os unirá numa trama muito bem construída, que já provocou discussões mundo a fora em função das inúmeras cenas de sexo explícito, nos mais diferentes locais da geografia nova-iorquina, e também do nu frontal masculino. Nesse caso, vale a pena prestar atenção no ótimo trabalho de direção de Steve McQueen, que opta por posicionar a câmera em locais insuspeitos a fim de acentuar ainda mais a força dramática da narrativa, muitas vezes fornecendo um aspecto opressor às imagens.

“Shame” possui muitas cenas tórridas de sexo, presentes em relações efêmeras e sem sentido, o que mostra o esvaziamento existencial dos personagens, num ambiente que parece oprimi-los ainda mais. Porém, Steve McQueen foge das caricaturas e, por isso, obtém uma riqueza dramática que deverá tocar a maioria dos espectadores numa sociedade cada vez mais rápida e em que as pessoas estão cada vez mais individualistas e preocupadas apenas em se divertir, sem ter que se envolver de fato umas com as outras. A dificuldade do afeto real é latente e arde na tela.

 

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